O Prêmio Nobel em Economia, o indiano Amartya Sen, mostrou-se favorável à utilização de um sistema de cotas para facilitar o acesso de parcela dos estudantes ao ensino superior. "Não há dúvida de que muitas pessoas com um histórico desprivilegiado não alcançariam posições privilegiadas de outra maneira", afirmou o Nobel durante o seminário `Diálogos em Educação', promovido pelo Instituto Unibanco.
Ele citou como exemplo a experiência adotada na Índia após a independência em 1949, quando foram implantadas ações afirmativas nos órgãos estatais, no serviço público e na educação, para corrigir as disparidades sociais envolvendo a casta mais discriminada naquele país, os dalit, também conhecidos como os "intocáveis".
Amartya Sen sugeriu ainda que o Brasil faça um acompanhamento constante do desempenho destes alunos ingressantes pelo sistema de cotas, avaliando suas trajetórias acadêmica, profissional e pessoal, a exemplo do estudo desenvolvido por William Bowen e Derek Bok, ex-reitores de Princeton e Harvard, respectivamente. Eles analisaram durante décadas o progresso de estudantes que ingressaram na vida acadêmica por meio de ações afirmativas, e identificaram que essas pessoas não só obtiveram considerável melhoria de renda e sucesso profissional, como também se dedicaram mais a atividades em prol da sociedade.
A análise foi publicada no livro "O curso do rio - um estudo sobre a ação afirmativa no acesso à universidade" ("The Shape of the River"). A educadora Wanda Engel, ex-ministra da Secretaria de Estado de Assistência Social, também defendeu o sistema de cotas. "Se tivéssemos uma igualdade de oportunidades educacionais para todos, não haveria a necessidade de haver cotas. Dizem que deveria ser social e não racial, mas concretamente os mais pobres são os menos brancos", afirmou.