Após o êxito na Matemática, a Universidade Aberta do Brasil (UAB), rede que sistematiza cursos a distância e semipresenciais oferecidos por instituições federais, expande a oferta de mestrados profissionais para outras áreas. As formações, voltadas a professores de escolas públicas, chegaram às áreas de Física e Letras no ano passado e devem atender ao ensino de Artes e História já em 2014.
A principal diferença dos mestrados profissionais para os acadêmicos, modalidade mais tradicional, é que esses cursos de pós-graduação se concentram menos na pesquisa e investem na capacitação para a prática. Quando começaram a se consolidar no Brasil, no início da década passada, havia resistência acadêmica ao formato. Hoje já existem mais de 500 no País.
No sistema UAB, que funciona desde 2007, os mestrados profissionais foram criados há três anos na área de Matemática (ProfMat). A opção pela universidade aberta atendeu à demanda, grande e distribuída, e facilitou o acesso. Cada universidade parceira tem um polo de coordenação, que orienta os estudantes da região e dá aulas presenciais uma ou duas vezes na semana. Os alunos ganham bolsa mensal de R$ 1,5 mil.
“Os resultados não são imediatos, mas elevam aos poucos a qualidade do ensino médio e fundamental público”, ressalta Lívio Amaral, diretor de Avaliação da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação.
QUALIFICAÇÃO - A rede de mestrados profissionais em Matemática, que tem servido de inspiração para cursos de outras áreas, é pioneira no sistema UAB. A coordenação da pós ficou sob responsabilidade da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), referência no setor.
Uma das prioridades foi levar em conta as necessidades e deficiências de formação dos docentes da rede pública. Para o presidente da SBM, Marcelo Viana, isso acontece porque os licenciados mais talentosos preferem ficar nas universidades a seguir o magistério no ensino básico. “Muitos nem pisam na sala de aula, já que a carreira não é atrativa”, diz. Entre os méritos do curso, segundo Viana, estão a troca de experiências entre os mestrandos e o contato com pesquisadores de ponta.
“Compreendi melhor conteúdos que já havia visto na faculdade”, lembra Vítor Amorim, professor de São Paulo que se formou na primeira turma do mestrado profissional de Matemática. De acordo com ele, que trabalha em uma escola estadual e em um colégio particular, a possibilidade de conciliar suas aulas com a pós foi fundamental para levar o curso adiante. “Outro ponto positivo foi repensar como avalio meus próprios alunos”, comenta.
Professora da Federal do Rio Grande do Norte e coordenadora do programa do mestrado profissional em Letras (ProfLetras), Maria das Graças Rodrigues explica que a intenção é trabalhar questões cotidianas. “Em vez de aceitarmos somente dissertações, também valem como trabalho de conclusão de curso softwares ou propostas didáticas que possam impactar a vida nas classes”, exemplifica.
Mais de 12,5 mil professores do ensino fundamental tentaram 856 vagas da primeira edição do ProfLetras, iniciada em agosto de 2013. A próxima turma começará em 2015.
ENGENHARIA - A pós-graduação em Matemática para professores do ensino básico também inspirou ideias de formação docente no ensino superior público. Está em debate um mestrado profissional com aulas semipresenciais para professores dos cursos tecnológicos e de Engenharia. “O objetivo é se basear também nas experiências bem sucedidas da Europa e dos Estados Unidos”, aponta Vanderli Fava de Oliveira, da Associação Brasileira de Ensino de Engenharia, responsável pela proposta junto de 20 universidades. A ideia ainda está em avaliação pela Capes.
CORRERIA - Aperfeiçoar a articulação com as secretarias de educação está entre os principais desafios para os mestrados profissionais da rede da Universidade Aberta do Brasil. “Seria interessante que os professores tivessem maior redução da carga horária para se dedicarem ao curso”, defende Marcelo Viana, da coordenação do curso de Matemática. Ele também defende que as pastas ofereçam mais incentivos para que os professores busquem capacitação. “Melhorar o salário e o plano de carreira para estimulá-los”, sugere.
De acordo com Lívio Amaral, diretor de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação, já existem esforços do governo federal para que as redes estaduais facilitem a participação dos docentes. “Mas é preciso reconhecer que as secretarias têm dificuldades. Não conseguem liberar totalmente o professor, durante um ou dois anos, e repor devidamente a equipe”, pondera.
Para Antônio Amaral, professor da cidade piauiense de Cocal dos Alves, a 280 km de Teresina, os dirigentes devem entender a importância da qualificação. “Dá trabalho, tanto na universidade quanto em casa. Fiquei com poucas aulas na minha escola, mas alguns colegas do curso tiveram dificuldades para a liberação”, lembra.
Existem ainda problemas estruturais. Entre os alunos da Região Norte, por exemplo, foi diagnosticado o menor tempo de acesso ao conteúdo online do curso. “A maioria dos professores não tem internet banda larga. Imprimem o material para estudar em casa”, relata Viana, que aponta a interiorização das turmas como outra meta.
Para os coordenadores, mais recursos também são necessários. “Precisamos custear a mobilidade dos estudantes e professores, que vão a aulas e eventos fora de suas cidades”, diz Maria das Graças Rodrigues, do mestrado profissional em Letras. Segundo ela, já são negociadas com a Capes mais verbas para as atividades acadêmicas.
Apesar da necessidade de ajustes, o formato de capacitação chamou a atenção fora do País. “Houve contatos iniciais do Uruguai, Chile e Cabo Verde para internacionalizar a rede”, conta Viana. No Brasil, já são discutidos mestrados profissionais em outros campos do ensino básico, como Biologia, Química e Educação Física.