Após quase quatro meses de greve de professores e funcionários, a Universidade de São Paulo (USP) segue em crise. Em mais uma tentativa de aliviar as contas, o reitor Marco Antonio Zago colocará imóveis à venda. A negociação envolve um terreno e salas comerciais, adquiridos na gestão anterior e considerados desnecessários pela atual administração. A estimativa é arrecadar cerca de R$ 50 milhões. O ex-reitor João Grandino Rodas acusa a medida de Zago de ‘desmonte’. O valor, porém, não cobre o déficit da USP, que gasta R$ 90 milhões mensais além do que recebe do Estado.
A medida ainda precisa do aval do Conselho Universitário, órgão máximo da instituição, e será votada nos próximos meses. Para conter a crise, Zago sugeriu um plano de demissão voluntária de servidores, já aprovado no conselho, e a transferência do Hospital Universitário e do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, de Bauru, ao Estado. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), contudo, disse que não assume as unidades.
A compra dos imóveis, feita em 2011 por Rodas, foi contestada dentro e fora da USP. Segundo o ex-reitor, a ideia era transferir para locais estratégicos parte dos órgãos administrativos, concentrados no câmpus Butantã, na zona oeste. As críticas eram de desperdício e desvio de função no uso de verbas.
O pacote englobará um terreno de quase 2,4 mil metros quadrados na Rua da Consolação, no centro, e um bloco de escritórios no Centro Empresarial de São Paulo (Cenesp), em Santo Amaro, zona sul. O primeiro, segundo consultores imobiliários ouvidos pelo Estado, vale cerca de R$ 19,7 milhões e o segundo imóvel, por volta de R$ 32, 4 milhões. A reitoria avalia internamente se vende um andar de um prédio na Avenida Paulista, também no centro e adquirido em 2011, de aproximadamente R$ 9,5 milhões.
Entre os imóveis comprados pela gestão Rodas, o mais polêmico é o terreno da Consolação. A previsão era construir um prédio de 16 andares até 2013, que abrigaria a procuradoria jurídica e outros órgãos, mas a obra atrasou. Neste ano, Zago parou o projeto.
Mais do que arrecadar, a reitoria quer evitar novas despesas. Inicialmente orçada em R$ 11 milhões, somados custos do terreno e da construção, a obra já consumiu R$ 25 milhões. Para concluir a previsão é gastar outros R$ 75 milhões, segundo apurou o Estado. “Discordamos que a universidade precise desse prédio”, afirmou Zago, em audiência pública na Assembleia Legislativa na semana passada. Ainda será necessário pagar multas para romper o contrato com a construtora.
As salas do Cenesp abrigaram 125 funcionários da administração central, mas hoje estão desocupadas. O negócio também envolve 28 vagas de garagem. Para o imóvel na Paulista, em vez de vendê-lo, uma alternativa seria usar as salas para abrigar reuniões ou escritórios externos. A USP ainda tem terreno ao lado do câmpus Butantã, perto do Parque Tecnológico do Jaguaré, que não deve ser vendido.
A USP possui cerca de 200 imóveis de heranças sem testamento, segundo a última contagem citada em fevereiro no Conselho Universitário, mas a verba obtida com esse patrimônio só pode ser usada em assistência estudantil. No caso dos outros imóveis, os recursos têm uso livre. A assessoria de imprensa da USP informou que só se manifestará quando a proposta estiver fechada.
Rodas desaprovou a ideia. “Os atos da atual gestão denotam um desmonte, um entreguismo”, disse ao Estado. Segundo ele, a aquisição foi aprovada por órgãos colegiados e segue o entendimento de que o câmpus deve reunir ensino e pesquisa e não todos os setores administrativos. Procurado, Zago não comentou as críticas.