O secretário de Segurança do Paraná, Fernando Francischini, entregou sua demissão nesta sexta-feira (8) ao governador do Estado, Beto Richa (PSDB).
Ficará interinamente em seu lugar Wagner Mesquita de Oliveira, que é delegado da PF e trabalha atualmente no departamento de Inteligência da secretaria.
Francischini cai depois de nove dias da ação policial que deixou ao menos 180 feridos numa manifestação contra o governo do Paraná, na semana passada. Bombas de gás e balas de borracha foram lançadas contra professores e servidores em greve, que protestavam contra um projeto que alterou a previdência do Estado, por quase duas horas.
Com a nova demissão -a terceira no alto escalão do governo paranaense-, amplia-se a crise na gestão Richa.
O comandante da Polícia Militar do Paraná, coronel Cesar Vinicius Kogut, pediu exoneração, nesta quinta (7), por "dificuldades intransponíveis" com o comando da Segurança no Estado.
Na quarta (6), quem deixou o cargo foi o então secretário de Educação, Fernando Xavier Ferreira.
Apontado como principal responsável da operação que culminou na ação policial, Francischini chegou a fazer um apelo ao governador para permanecer no cargo, mas enfrentava resistências da própria PM e críticas severas de manifestantes e até da base aliada.
Na carta de demissão, ele disse que pediu exoneração "para colaborar com a governabilidade do governo", e que confia na capacidade de liderança do governador para "superar este momento de crise". Contrariando declarações anteriores, ele afirmou que assumiria todas as responsabilidades pela operação policial da semana passada.
"Assumo novamente e publicamente todas as minhas responsabilidades na atuação policial nas últimas operações, apoiando o trabalho da tropa", escreveu.
O ex-secretário ainda defendeu sua gestão à frente da pasta e listou "os avanços na área de segurança" durante o período, como o fim de grandes rebeliões em presídios e diminuição dos roubos a caixas eletrônicos. "Tenho a convicção de que a segurança pública e a administração penitenciária estão no rumo certo", declarou.
CRÍTICAS
Na última quarta (6), a mulher do secretário, Flavia Francischini, fez um desabafo nas redes sociais sobre as idas e vindas do processo, e disse que seu marido não depende de "homens sujos e covardes".
"Nunca pensei que ser honesto, profissional, linha-dura e determinado pudessem ser prerrogativas para não pertencer a um grupo político", escreveu ela no Facebook. "Um bom político trabalha e age por si só, não depende de homens sujos, covardes, que não honram as calças que vestem e precisam agir sempre em grupo, ou melhor, quadrilha."
A postagem foi apagada minutos depois.
O secretário é deputado federal licenciado pelo SD (Solidariedade), e um aliado antigo de Richa. Já foi filiado ao PSDB e atuou como secretário municipal quando o tucano era prefeito de Curitiba.
"SABIA DE TUDO"
Francischini travava uma queda de braço com o comando da PM desde a operação.
Em entrevista coletiva, o agora ex-secretário atribuiu a responsabilidade total do episódio, classificado por ele como "terrível", à Polícia Militar, e disse que cabia a ele apenas fazer a gestão da Segurança.
Kogut, então comandante-geral da PM, reagiu, e afirmou que tudo que foi feito era de pleno conhecimento de Francischini. "O secretário conhecia e participou de tudo", disse ele, em entrevista ao jornal "Gazeta do Povo" publicada nesta sexta (8).
"A responsabilidade pelos atos, certos ou errados, é em conjunto entre a PM e quem esteve na execução e no planejamento. Legalmente, a coordenação operacional pertence à secretaria de Segurança", afirmou o coronel à "Gazeta".
O ex-comandante, que deve seguir para a reserva da corporação, disse que não pediu demissão especificamente por causa da operação, mas por "dificuldades intransponíveis" com o secretário da Segurança.
Também comentou que a conversa que teve com Richa foi amistosa, e que o governador está "abalado" pelo que aconteceu.
Kogut daria uma coletiva de imprensa na manhã desta sexta (8), mas a cancelou ainda na noite anterior.