No Dia do Muçulmano, mulheres explicam como é seguir o Islã no Brasil

Simbologia do corpo e responsabilidade feminina na religião são temas de entrevista
Da AFP
Publicado em 12/05/2015 às 14:33
Simbologia do corpo e responsabilidade feminina na religião são temas de entrevista Foto: Foto: Arif Alli/AFP


"A mulher muçulmana carrega no corpo a religião", diz Claudia Asma, 44, sobre a responsabilidade feminina diante do islamismo. Brasileira, ela não nasceu em nenhum país muçulmano e não tem familiares praticantes da religião.

Claudia, que estudou por seis anos o Alcorão antes de converter, vive em Foz do Iguaçu, cidade que tem a maior comunidade islâmica do Brasil, em proporção à sua população total.

A cidade paraense comemora, no dia 12 de maio, o Dia do Muçulmano. Dentro de uma das mesquitas de Foz do Iguaçu, Claudia e cinco amigas se revezam para explicar o que é ser uma mulher muçulmana e o que significa optar por esse caminho em um país como o Brasil.

"Se uma mulher islâmica faz algo de errado, não é uma mulher, e sim uma muçulmana que está fazendo algo de errado", define ela.

Vir de família evangélica, segundo ela, facilitou conviver em um ambiente em que o dia a dia é conduzido a partir de questões espirituais.

A mesma visão é compartilhada com a amiga Raquel Diniz, 41, que se converteu ao casar com um libanês que morava na casa vizinha de seus pais.

"A muçulmana não é uma mulher oprimida. (...) Usar o véu não tem nada a ver com o pai ou com o marido, e sim com Deus", afirma Raquel ao falar sobre a "hijab" (lenço curto, que cobre a cabeça e o colo). Elas também podem usar o usar o xador, véu mais longo e na altura do quadril.

"Não é obrigatório, há muitas mulheres que conhecem a religião mas preferem não usar o véu." Claudia conta que sua filha, por exemplo, optou por não adotar a vestimenta aos nove anos, idade a partir da qual passa ser permitido, e não usa até hoje.

Para a antropóloga Francirosy Ferreira, que estuda o assunto há 19 anos, existe uma especificidade em ser mulher que vem antes da sua cultura ou religião, e que difere de contexto em contexto.

Segundo ela, nem sempre as reivindicações das mulheres no Ocidente colaboram para as pautas feministas no Oriente. Apesar de o islamismo não obrigar uma filha a casar com quem o pai escolher, culturalmente isso acontece em países muçulmanos. Tal pauta não aparece em bandeiras ocidentais, exemplifica Francirosy.

"Nós temos um grande problema que é o etnocentrismo, o que fazemos é sempre melhor do que os outros. Vivemos um momento de intolerância em vários sentidos. (...) Falta uma construção de alteridade, de entender que o outro é diferente."

PRECONCEITO

"Tudo o que é diferente é observado. Quando acontece algum ato terrorista [como o 11 de Setembro], nesses casos sim, somos hostilizadas. É desagradável, já aconteceu comigo, mas eu não me incomodei", conta Claudia.

"Terrorismo e religião são coisas diferentes", repete. A reclamação de Claudia e suas amigas é a mesma: o islamismo é generalizado em práticas que, nem sempre, estão ligadas a ele.

"A pena de morte não é uma lei islâmica, porém países muçulmanos a praticam. Os Estados Unidos, por exemplo, têm pena de morte, mas ninguém fala nada", compara Hanadi Diniz, 19, filha de Raquel.

Hanadi destaca, no entanto, o fato de em Foz do Iguaçu as pessoas já estarem acostumadas com os muçulmanos. Para ela, esse é um dos motivos de não sofrerem nenhum preconceito explícito.

Sobre o noticiário recente acerca do Estado Islâmico (EI), milícia radical que prega agir com base no islã, Hanadi também diz que a população local não associa tais práticas aos muçulmanos locais.

"Quando ficamos sabendo de algum noticiário sobre o EI, também ficamos chocados, assim como vocês" explica. "São grupos isolados que agem de acordo com suas necessidades, ficamos indignados."

TAGS
doutrina corpo mulher religião Dia do Muçulmano
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory