A chegada da lama das barragens da Samarco ao rio Doce começa a afetar os negócios em cidades ribeirinhas da região. Empresas de variados portes -da fabricante de celulose Cenibra a cooperativas agroindustriais- estão sendo forçadas a suspender a produção por dificuldades no suprimento de água.
O frigorífico Mafrial, de Governador Valadares (MG), decidiu fechar as portas ao meio-dia desta terça-feira (10) e mandar os 412 funcionários para casa por pelo menos três dias.
"Tivemos que parar porque não há condições de tratar a água. É muita lama. E existe a suspeita de que há muito resíduo de minério, contaminação. Não posso arriscar", disse Waltair Moreira, gerente industrial do Mafrial.
O frigorífico é um dos 144 usuários autorizados a captar água no rio Doce, lista que inclui desde produtores rurais a empresas de saneamento, e está entre as empresas que têm sofrido os impactos da tragédia.
O Mafrial capta de 400 a 500 litros de água por dia do rio Doce, que fica a 30 metros de distância do portão do abatedouro. A água é tratada e usada na higienização dos equipamentos e no processo de abate.
A empresa abate por dia 600 cabeças de gado, que são comprados de 200 produtores rurais da região. Essa carne abastece frigoríficos do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. "O prejuízo ambiental e financeiro é grande", afirma Moreira.
Uma das primeiras a suspender as atividades foi a fabricante de celulose Cenibra, que fechou as portas da fábrica em Belo Oriente ainda no sábado (7), "devido às restrições para captação de água no Rio Doce".
Em nota oficial, a empresa diz que não há previsão de retorno da fábrica, que tem capacidade para produzir 1,2 milhão de toneladas.
A Cooperativa do Vale do Rio Doce, que produz 200 litros de leite por dia da marca Ibituruna, em Governador Valadares, percorreu as fazendas da região para alertar seus 1.500 produtores a não utilizar a água do rio.
Os produtores de leite utilizam a água para alimentar o rebanho, irrigar a capineira (pasto de capim) e produzir milho. Segundo Gilmar Oliveira, gerente-geral da cooperativa, a preocupação é com o que pode existir na água.
"Estamos ainda aguardando os órgãos competentes nos dizerem quando e se poderemos tratar a água. O que estamos vendo é um rio sem oxigênio, com muito peixe morrendo", disse Oliveira.
Localizada em Resplendor, quase na divisa com o Espírito Santo, a Capel Tradição em Latícinios começa a se preparar para enfrentar a crise.
"Fomos informados que a segunda onda de lama chegará aqui amanhã [quarta-feira] e teremos que interromper a captação de água", diz o gestor da área de meio ambiente da empresa, Fabiano Rodrigues dos Santos.
A Capel capta do rio Doce uma média de 8 litros por segundo, usados para limpeza de equipamentos e alimentação de caldeiras, além do consumo dos empregados.
Santos explica que a água de poços artesianos vai permitir a manutenção de determinadas atividades, mas as linhas de produção de leite UHT e de queijos, excluindo a muçarela, serão paralisadas.
"Sem água não dá para trabalhar", lamenta ele, calculando uma perda de 30% na receita até que a situação se restabeleça.