Natal teve mais uma noite e madrugada de violência entre segunda-feira (1º), e esta terça-feira (2). Foram seis ataques, das 22 horas até as 6 horas, o mais grave, na sede da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), em que criminosos queimaram uma parte do depósito e quatro veículos que estavam estacionados.
O Rio Grande do Norte começa a receber nesta terça-feira o efetivo de 1,2 mil militares das Forças Armadas, convocado após a sequência de atos violentos na capital e em cidades do interior desde o fim de semana.
De acordo com o sindicato das empresas de transporte, a cidade conta com 50% da frota de ônibus em circulação e o efetivo só vai aumentar quando as tropas do Exército chegarem.
Na madrugada desta segunda-feira, marcada pelo incêndio de veículos e novos ataques a prédios públicos, 17 detentos fugiram do Centro de Detenção Provisória (CDP) da Ribeira, na zona leste de Natal. Na noite de domingo, 31, parte da mata no Morro do Careca, principal cartão-postal da capital, chegou a ser incendiada.
Na tentativa de desmobilizar as facções criminosas que lideram os ataques, o governo do Estado conseguiu autorização para a transferência de cinco detentos que estavam no Presídio Estadual de Parnamirim - unidade na Grande Natal que reagiu à instalação de bloqueadores de sinal de celular. Os detentos foram levados para o Presídio Federal de Mossoró.
Nos próximos meses, os bloqueadores devem ser instalados em todas as unidades prisionais potiguares. Novas transferências já foram autorizadas.
Entre a população, o clima é de apreensão. A comerciante Ana Dias, de 45 anos, proprietária de uma farmácia no bairro de Capim Macio, na zona sul da capital, manteve o negócio fechado e optou por deixar as duas filhas, de 9 e 13 anos, em casa. "Elas estavam animadas para o retorno às aulas, mas não me senti segura em deixar que fossem. Ficamos trancadas em casa o dia todo. Meu marido foi trabalhar, mas só fiquei tranquila quando ele chegou."
O diretor do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos do Rio Grande do Norte (Seturn), Nilson Queiroga, disse que o cuidado é constante. "Vamos avaliar a situação a cada hora, hoje, amanhã e depois, para podermos garantir não só a circulação das pessoas, mas acima de tudo preservar a vida dos trabalhadores, dos passageiros e também o nosso patrimônio."
Até a noite de domingo, 68 pessoas foram presas por suspeita de envolvimento com os casos de violência.
O governador Robinson Farias (PSD) afirmou estar "confiante". Durante todo o dia, a cúpula do governo esteve reunida com representantes do Exército. As tropas serão deslocadas de Pernambuco e Alagoas e atuarão principalmente no patrulhamento ostensivo nas ruas, em parceria com a polícia.
"Ficou definido que o papel principal das Forças Armadas será a ronda ostensiva, para evitar os ataques, e não o enfrentamento", destacou o secretário estadual de Segurança, Ronaldo Lundgren. Do efetivo, 1 mil homens são do Exército e 200 integram o corpo de fuzileiros da Marinha. A previsão inicial é de que o reforço seja mantido até o próximo dia 16.
Lundgren classificou os ataques como "atos de terrorismo". "Na minha concepção, o que estamos vivendo são atos de terrorismo. Esses atos visam a aterrorizar toda a população e a acuar as autoridades. A decisão de bloquear o sinal dos celulares nos presídios é acertada e tem como meta encerrar o círculo vicioso que existe entre os presos e seus grupos criminosos", afirmou.