Temor de febre amarela motiva massacre de macacos no Rio de Janeiro

Só neste ano, 238 macacos morreram no Estado do Rio de Janeiro
AFP
Publicado em 11/02/2018 às 9:09
Só neste ano, 238 macacos morreram no Estado do Rio de Janeiro Foto: Foto: AFP


O medo da febre amarela desatou nas últimas semanas no Rio de Janeiro um massacre de macacos, considerados equivocadamente vetores do vírus, apesar de estes serem a melhor defesa contra a doença, advertem autoridades.

Desde o início do ano, 238 macacos apareceram mortos no estado, contra 602 em todo o ano passado, informaram os serviços sanitários da cidade do Rio.

Sessenta e nove por cento apresentavam sinais de agressão, a maioria de espancamento ou envenenamento.

O restante morreu devido a doenças diversas, que são investigadas neste laboratório aonde chegam os macacos encontrados mortos no estado do Rio para avaliar a possível presença de vírus como o da febre amarela.

Após o último surto desta doença, que causou a morte de 25 pessoas neste estado desde o começo do ano, a população começou a procurar em massa vacinas em falta, mas alguns decidiram agir contra os macacos, em uma cidade entrelaçada com a floresta tropical.

"As pessoas precisam saber que quem transmite o vírus da febre amarela é o mosquito. O macaco é uma vítima, como o ser humano. Se o macaco não estiver no ambiente, o mosquito vai buscar o homem para se alimentar", explica à AFP Fabiana Lucena, chefe da Unidade de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, perto do centro do Rio.

Em sua mesa de trabalho, alinham-se os corpos de uma dezena de pequenos primatas que devem ser submetidos a necropsia.

"Este apresenta múltiplas fraturas na mandíbula, na coluna, assim como diversas fraturas em ossos do crânio", explica, enquanto apalpa delicadamente a cabeça do animal.

Os corpos dos macacos que chegam ao laboratório foram encontrados em vias públicas, alguns no meio da cidade.

A prefeitura habilitou um número de telefone para que a população aponte o aparecimento de carcaças, a fim de que os serviços sanitários possam retirá-las.

"Quando foram anunciadas as primeiras mortes [de humanos] relacionadas com a febre amarela este ano, em meados de janeiro, havia dias em que recebíamos uns vinte macacos mortos, dos quais 18 com sinais de agressão", conta a veterinária.

Sentinelas

No laboratório, os macacos são submetidos a uma necropsia e, em alguns casos, fragmentos de órgãos são enviados à Fundação Oswaldo Cruz, renomado centro de epidemiologia, para identificar eventuais casos de doenças como a febre amarela.

As carcaças são incineradas em um crematório nas mesmas instalações dos serviços sanitários.

"Os macacos servem de sentinelas, nos mostram onde o vírus está", insiste Fabiana Lucena.

"Para poder fazer uma campanha de vacinação mais intensa nas áreas onde estão ocorrendo mortes de macacos por febre amarela. A partir do momento que o ser humano interfere nisso, isso dificulta a rastreabilidade do vírus", conclui.

Também foram identificados massacres destes animais em outras regiões do Brasil, especialmente nos estados vizinhos de São Paulo e Minas Gerais, onde foi registrado o maior número de casos de febre amarela.

Em São Paulo, uma equipe de biólogos que trabalha em um parque da cidade lançou nas redes a campanha #Freemacaco, depois de ter recolhido dois filhotes que ficaram órfãos após a morte da mãe, assassinada a pancadas.

Em escala nacional, 98 pessoas morreram e 353 contraíram a febre amarela no período que vai de 1º de julho a 6 de fevereiro, segundo o último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde.

A febre amarela no Brasil se apresenta na modalidade de ciclo rural e está restrita a áreas de floresta, consideradas prioritárias para efeitos de imunização.

A modalidade urbana ocorre quando um mosquito transmite o vírus de uma pessoa contaminada a outra saudável. Mas não há registros deste ciclo no Brasil desde 1942 e as autoridades negam indícios de uma urbanização da doença.

A febre amarela causa febre, calafrios, fadiga, dor de cabeça e muscular, geralmente associados a náuseas e vômitos. Os casos severos causam insuficiência renal e hepática, icterícia e hemorragia.

 

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