O presidente da Vale, Fábio Schvartsman, negou que a companhia soubesse previamente dos riscos do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que deixou 166 mortos e 155 desaparecidos. O executivo disse que os relatórios foram feitos pela própria empresa, em atendimento a normas da Agência Nacional de Mineração (ANM).
"Gostaria de explicar que existe a obrigação legal de calcularmos para a ANM o impacto de uma eventual falência das minas no número de vítimas. Isso é lei. Isso em absoluto significa que a Vale sabia que algo ia acontecer a ponto de saber o número de mortos", afirmou, em audiência pública na Câmara dos Deputados.
O executivo disse que a Vale tem dado amplo acesso a documentos internos, inclusive a estudos de desenvolvimento, mas esses relatórios não significam que a companhia sabia que a barragem iria se romper e foi omissa. "Não se leva especulação para a diretoria", acrescentou.
Schvartsman disse que as barragens da Vale são geridas por equipes locais e que os gerentes das unidades têm autonomia para investimentos de até R$ 40 milhões sem consulta prévia à diretoria. Segundo ele, o local de construção de um refeitório, por exemplo, não passa pela diretoria.
"Apesar de eu ser presidente da companhia, não sou dono da verdade, nem sei tudo que acontece lá", afirmou. "Mas a maior prova de que não sabíamos do risco é que o gerente local de Brumadinho estava lá e morreu. Quando digo que foi uma surpresa é porque foi mesmo", disse.
Schvartsman destacou que diversas autoridades estão investigando o acidente e que, se houver culpados, eles serão punidos. Ele voltou a ressaltar que o sistema de monitoramento de barragens se baseia na confiança em diversos elos, entre eles técnicos capacitados que atestam a estabilidade das barragens.
"Não é alguém na sede da empresa, no Rio, que vai dizer o que precisa de atenção imediata. A responsabilidade é local", disse. "A pedra fundamental do sistema de monitoramento são os laudos de estabilidade. Recebemos 500 laudos atestando a segurança de todas as barragens. Por que deveríamos desconfiar deles?", questionou.
"Se os laudos atestam estabilidade, não devemos desconfiar. É por isso que digo que foi um acidente", disse o executivo, ao ser interpelado por deputados que recusam o uso do termo "acidente" para a tragédia em Brumadinho. "Não temos nada para esconder, por isso aceitei convite para vir à Câmara espontaneamente."
Em resposta aos deputados que questionaram como o executivo tinha coragem de continuar na presidência após a tragédia, Schvartsman disse que não tem intenção de deixar a direção da mineradora. Ele ressaltou que vai continuar à frente da empresa enquanto contar com a confiança dos acionistas.
"Evidente que estou consternado com o que aconteceu. Não queria que acontecesse, mas me vejo como parte da solução", disse. "Compreendo e faço minha a indignação de vocês sobre Brumadinho "
Schvartsman disse ainda que a companhia não está preocupada com os gastos que terá com o pagamento de indenizações às vítimas, nem com a recuperação do meio ambiente.
"A Vale vai ser parte da solução. Não estamos olhando para parte financeira", disse. "O trabalho da Vale em relação ao resgate de animais e à recuperação do meio ambiente em Brumadinho não vai parar. Vamos agir rápido para reverter o impacto ambiental o mais rápido possível e consertá-lo."
O executivo disse que a Vale não tem intenção de sair de Minas Gerais, nem de diminuir suas operações no Estado. "A Vale não tem nenhuma intenção de sair de Minas Gerais", disse. "O compromisso da companhia com Minas Gerais é eterno."
Segundo o executivo, a Vale desenvolveu tecnologias para processamento de minérios a seco em praticamente todas as áreas em que opera. Esse modelo é mais seguro que o de barragens, assegurou o executivo. "Foi um investimento monumental da companhia. Vamos introduzir práticas modernas e o máximo de operações a seco", disse.
"Os investimentos em barragens aumentaram significativamente desde que entrei na Vale. Esses números são públicos e verdadeiros", afirmou. "Infelizmente deu uma coisa muito errada e vamos atrás da averiguação."
Schvarstman ressaltou ainda que a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie vai supervisionar os trabalhos de apuração da tragédia, como coordenadora do Comitê Independente de Assessoramento Extraordinário de Apuração (CIAEA). "Ela está acima de qualquer suspeita", disse. "Quando digo que não sabemos o que aconteceu, é verdade. Não temos solução fácil."