O policial militar Rodrigo Jorge Ferreira confessou que prestou falso testemunho com o objetivo de se vingar do miliciano Orlando Curicica. Ele admitiu ter mentido ao incriminar Curicica como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. Ferreirinha, como é conhecido, foi preso nesta sexta-feira (31) em uma operação do Ministério Público do Rio. Em depoimento à Polícia Federal, dado anteriormente à operação desta sexta, o PM confessou que prestou falso testemunho com a intenção de se vingar de Curicica, que havia tomado sua central clandestina de TV a cabo em uma área da Zona Oeste do Rio.
A advogada de Ferreirinha, Camila Nogueira, afirma que ele admitiu o falso testemunho por se sentir pressionado pelos agentes federais. A PF concluiu que Ferreirinha e sua advogada integram uma organização criminosa que tem como objetivo impedir o esclarecimento do Caso Marielle. Camila Nogueira nega ter cometido qualquer ato ilegal.
Ferreirinha disse à Polícia Federal que procurou o ex-inspetor da Polícia Civil, Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, que é considerado inimigo de Curicica pela disputa do controle de um milícia, segundo a PF. No depoimento, o PM afirma que Jorginho o apresentou ao agente federal aposentado Gilberto Ribeiro da Costa, além do delegado da PF Hélio Khristian Cunha de Almeida, que foi responsável por levar Ferreirinha para prestar depoimento à Delegacia de Homicídios a Capital (DH), órgão da Polícia Civil do Rio que investiga a morte da vereadora e do motorista. Gilberto, por sua vez, trabalhou no gabinete de Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que ainda exerceu quatro mandatos de deputado estadual pelo MDB. Brazão também é investigado por envolvimento no caso.
Gilberto Ribeiro da Costa, Hélio Khristian e Domingos Brazão negam que cometeram quaisquer atos para atrapalhar a investigação.
A versão apresentada por Ferreirinha praticamente isenta de responsabilidade os demais citados a investigação, mas não foi totalmente aceita pelos membros do MP e da PF. Por isso, no relatório enviado à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a PF sugere a continuação do trabalho, segundo apurou a reportagem do UOL.
A Polícia Federal apontou o indiciamento de alguns investigados, mas as promotoras do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP do Rio aguardam a chegada de documentos relacionados às quebras de sigilo de telefone e buscas na internet dos suspeitos para concluir a denúncia.
O depoimento de Curicica foi estopim para que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinasse que a entrada da PF no caso.
Um mês e meio depois do duplo assassinato ocorrido em 14 de março de 2018, Ferreirinha incriminou Curicica e o vereador Marcello Sicilliano (PHS) como mandantes do atentado no qual também foi assassinado o motorista Anderson Gomes.
Não está claro se agora, ao admitir que mentiu, o PM tenha retirado também sua versão dos fatos sobre o vereador.
Após a divulgação do depoimento do PM, Curicica e Siciliano negaram a autoria do crime. Curicica, que estava preso no Rio, foi transferido para o presídio federal de Mossoró (RN). Lá, ele prestou depoimento ao MPF (Ministério Público Federal) no qual afirmou que a Polícia Civil do Rio tentou lhe convencer a assumir a morte de Marielle e revelou um suposto esquema de corrupção na DH que barraria investigações sobre homicídios ligados ao jogo do bicho e às milícias.
Com Curicica em prisão federal, o PM obteve o controle do serviço ilegal de TV a cabo prestado pela milícia. Aliado a Ferreirinha, o ex-policial civil Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, passou a controlar a região de Curicica, onde explora um esquema ilegal de máquinas caça-níqueis, segundo a Polícia Federal.
A defesa do ex-policial civil Jorge Luiz Fernandes nega qualquer envolvimento no caso e diz que ele não conhece e nunca teve contato com o policial militar.