Incêndios na Amazônia são causados para fins de desmatamento, diz pesquisador da Nasa

Cientistas afirmam que dados coincidem com média de desmatamento e queimadas divulgadas pelo Inpe
JC Online
Publicado em 23/08/2019 às 8:19
Foto: Agência Brasil


Pesquisadores da Nasa responsáveis pelo monitoramento de focos de queimadas no mundo afirmam que registros de incêndios na floresta amazônica têm relação com aumento abrupto de desmatamento registrado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais) nas últimas semanas, e não com atividades como limpeza de pastos, preparo de plantios ou queima de bagaços. As informações são da Folha de S. Paulo.

"Vimos sinais de que o desmatamento está aumentando neste momento", diz Douglas Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, em Maryland, nos Estados Unidos.

"Dez dias atrás, olhei as imagens dos nosso sensores dos satélites em órbita e eles mostravam claramente os focos de calor separados, com colunas de fumaça enormes saindo daquelas áreas da fronteira agrícola, como Novo Progresso, a região da Terra do Meio, no Pará, e o sudeste do estado do Amazonas", afirma Morton.

HANDOUT / © 2019 PLANET LABS, INC / AFP
Do começo do ano até o dia 20 de agosto, foram registrados 39.033 focos de incêndio - HANDOUT / © 2019 PLANET LABS, INC / AFP
Agência Brasil
Do começo do ano até o dia 20 de agosto, foram registrados 39.033 focos de incêndio - Agência Brasil
Agência Brasil
Do começo do ano até o dia 20 de agosto, foram registrados 39.033 focos de incêndio - Agência Brasil
Handout / © 2019 Planet Labs, Inc / AFP
Do começo do ano até o dia 20 de agosto, foram registrados 39.033 focos de incêndio - Handout / © 2019 Planet Labs, Inc / AFP

Segundo o cientista, não existe uma quantidade de combustível suficientemente alta para gerar aquelas colunas de fumaça se aquilo for somente limpeza de pasto, por exemplo. 

Além disso, o padrão de nuvens visto na região é o de "pirocúmulo", que está associado a fogo ou atividade vulcânica. Morton afirma que na última vez que um cenário assim foi capturado por satélites da Nasa sobre a Amazônia foi nos anos de 2002 a 2004, quando o desmatamento anual estava acima dos 20 mil km² por ano.

Média dos últimos quinze anos

Uma declaração divulgada nas redes sociais pelo site Earth Observatory da Nasa, na última quinta-feira (22), foi extremamente compartilhada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, por afirmar que "a atividade total de fogo ao longo da Bacia Amazônica neste ano esteve perto da média em comparação aos últimos 15 anos".

Morton diz que o texto está correto por incluir o ano de 2004, que eleva a média por ter tido o triplo do desmate anual comum nos últimos sete anos. O que não pode para ser usado para negar um aumento no desmate em 2019. "O ano de 2010, quando uma grande seca se abateu sobre a Amazônia, também contribuiu para os dados de queimadas registrarem um viés de alta."

"A afirmação [da Nasa] coincide com os dados do Programa Queimadas do Inpe", diz o coordenador do projeto, Alberto Setzer. "Os dados de focos de queima de vegetação que usamos na geração dos nossos dados, os focos do satélite Aqua, são em princípio exatamente os mesmos que a Nasa usa no monitoramento que fazem para todo planeta. Os valores finais do Inpe são um pouquinho inferiores, pois retiramos o sinal de fontes industriais, como siderúrgicas."

De acordo com ele, a afirmação da Nasa de que Mato Grosso e Pará estão abaixo da média de queimadas também não conflita com dados do Inpe. "Mato Grosso é o estado com mais focos neste ano; por outro lado, em termos de aumento porcentual, o Pará está muito mais alto", diz Setzer. "Mato Grosso tem apresentado queda nos últimos anos, embora nada se possa dizer para 2019, uma vez que ainda temos quatro meses pela frente."

O Programa de Queimadas do Inpe disponibiliza os dados em seu site.

A ONG Ipam (Instituto de Pesaquisa Ambiental da Amazônia) reitera que o número de focos de incêndios, para maioria dos estados da região amazônica, já é, ainda em agosto, o maior dos últimos quatro anos. ‘É um índice impressionante, pois a estiagem deste ano está mais branda do que aquelas observadas nos anteriores’, afirma o grupo, encabeçado pelo pesquisador Divino Silvério. 

Os pesquisadores dizem ver na presença do fogo sinal claro. "As chamas costumam seguir o rastro do desmatamento: quanto mais derrubada, maior o número de focos de calor."

O Ipam defende que não se pode dizer que o Inpe esteja superestimando os dados. No estado do Acre, a qualidade do ar caiu em consequência às queimadas. "Uma análise realizada a partir dos alertas de incêndios utilizando multissensores (imagens de satélite Sentinel, Landsat e CBERS) já soma mais de 19 mil hectares em cicatrizes de queimadas no estado."

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