Conflito pelas ilhas deu aos britânicos um novo status militar

Após rápida vitória nas Malvinas, o Reino Unido retomou autoestima e empreendeu outras ações militares
Agência France Presse
Publicado em 31/03/2012 às 15:30


LONDRES - O Reino Unido, ex-grande potência marítima, endossou um novo papel internacional com a Guerra das Malvinas em 1982, ao retomar rapidamente a posse das ilhas do Atlântico Sul disputada com Buenos Aires, de acordo com especialistas. 

A vitória britânica sobre as tropas argentinas, após 74 dias, deu mais peso ao Reino Unido em nível internacional, após um período de declínio seguido da Segunda Guerra Mundial, marcado pela queda de um império que englobava um terço do planeta. 

O Reino Unido terá em 2018 um segundo porta-aviões, que será equipado até 2020 com aeronaves stealth F-35. Enquanto isso, o governo britânico tem que compartilhar um porta-aviões com a França... país que a Royal Navy derrotou na batalha de Trafalgar em 1805. 

Estas restrições orçamentárias mascaram o fato de o Reino Unido ter que gastar 239 milhões de euros (US$ 317 milhões de dólares) por ano somente para manter o transporte aéreo e marítimo para as Malvinas, localizada a cerca de 13 mil quilômetros de Londres, e para uma nova base militar dotada de caças. 

"Longe de ser a última vitória de uma potência em declínio, as Malvinas despertaram a crença de que o Reino Unido pode ser ainda uma força militar e diplomática maior", disse o especialista em geopolítica, Klaus Dodds. 

"Se você observar o que o Reino Unido fez depois das Falklands (nome dado às Malvinas pelos britânicos) - em Bósnia, Iraque, Afeganistão, Líbia - muitas intervenções ocorreram", graças à confiança conquistada com a vitória nas Malvinas, acrescenta este professor da Royal Holloway University de Londres. 

A Guerra das Malvinas impulsionou uma onda de patriotismo no Reino Unido, ansioso por uma lembrança de séculos de dominação naval e um antídoto para uma série de derrotas militares, entre elas a crise do Canal de Suez em 1956. 

Ainda hoje, a lembrança do conflito das Malvinas está muito viva, em um momento de tensão, após a reação despertada entre os ex-oficiais pelos recentes cortes no orçamento da defesa. 

Segundo esses ex-militares, o país pode não ser mais capaz de defender seus últimos interesses marítimos. 

Esta política de austeridade pode ser traduzida pela reforma de caças Harrier e do único porta-aviões britânico plenamente operacional, o HMS Ark Royal. Um símbolo: o primeiro navio da Marinha Real com este nome que infligiu uma derrota humilhante na Armada Espanhola, em 1588. 

O Reino Unido teria, de fato, pouca dificuldade em responder a uma possível invasão das Malvinas, acreditam os especialistas, enquanto as relações entre Londres e Buenos Aires esquentam neste trigésimo aniversário do conflito. 

Para Michael Clarke, diretor geral da Royal United Services Institute, em Londres, a Argentina tem um atraso de 80 a 100 anos em relação ao Reino Unido no plano militar, e a sua melhor arma é a opinião pública internacional. 

"A Argentina se beneficia de uma solidariedade crescente com suas reivindicações" sobre as Malvinas e "da oposição a uma ex-potência imperial, parceira natural dos Estados Unidos", afirma Clarke. 

"Quando os dois porta-aviões (do Reino Unido) entrarem em serviço, o país será novamente a segunda potência naval do mundo, depois dos Estados Unidos", acrescenta Andrew Lambert, professor de história naval no King's College London. 

O Reino Unido tem que focar na Marinha, o país é insular, insiste. "Nós produzimos cerca de 35% de nossa comida, cerca de 25% de nossa energia e tudo chega pelo mar. Se não pudermos utilizar o mar, morreremos de fome até o fim de semana e a eletricidade vai se apagar rapidamente". 

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