A polícia de Hong Kong fez uso de gás lacrimogêneo neste domingo para dispersar os milhares de manifestantes defensores da democracia, determinados a conquistar de Pequim maiores liberdades políticas.
Os manifestantes invadiram uma importante avenida e paralisaram parte do centro da cidade para protestar contra a decisão de Pequim de limitar o alcance do sufrágio universal nesta antiga colônia britânica.
A polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo e fez uso de spray de pimenta, o que é muito raro em Hong Kong, contra os manifestantes, que haviam forçado um cordão policial em torno dos edifícios que abrigam a sede do governo e do conselho legislativo de Hong Kong, diante dos quais acampam há vários dias.
De acordo com estimativas de jornalistas da AFP, dezenas de milhares de pessoas se juntaram neste domingo aos protestos.
"Vergonha, vergonha, vergonha", gritavam os manifestantes que tentavam desesperadamente se proteger das espessas nuvens de gás usando guarda-chuva e capas de plástico.
"Nós temos o direito de ficar e protestar", disse Ryan Chung, um estudante de 19 anos. "O mundo deve saber o que está acontecendo em Hong Kong. Eles devem saber que nós queremos democracia, mas que não conseguimos isso".
O tráfego foi paralisado. Essas cenas, muito incomuns na ex-colônia britânica, pontuam uma semana de manifestações lideradas por estudantes.
Neste domingo, grupo de defesa da democracia Occupy Central, decidiu oficialmente partir para a batalha. Este grupo, dirigido por dois acadêmicos e um padre, decidiu antecipar o seu plano de reunir milhares de ativistas e tomar partes chave do distrito financeiro da cidade.
Esta ação estava prevista para 1º de outubro, mas durante um discurso em meio ao protesto, na primeira hora de domingo (hora local), o cofundador do grupo Benny Tai disse: "o Occupy Central começa agora".
Em agosto, a China anunciou que o futuro chefe do executivo local seria eleito por sufrágio universal a partir de 2017, mas entre dois ou três candidatos selecionados por um comitê sob a autoridade de Pequim.
Desde que o Reino Unido devolveu Hong Kong à China, em 1997, o território é regido pelo acordo "um país, dois sistemas", que dá maiores liberdades civis, entre elas a liberdade de expressão e protesto.
Os estudantes, que chegaram a invadir na sexta-feira a sede do governo, lideram há várias semanas uma campanha de desobediência civil para protestar contra o que muitos em Hong Kong percebem como um domínio crescente de Pequim sobre assuntos locais.
'Fazer o governo ceder'
Occupy Central exige a retirada da decisão de Pequim e "pede o relançamento do processo de reforma política". "Exigimos que o governo do chefe do Executivo, Leung Chun-ying, apresente ao governo central um novo relatório sobre as reformas políticas que reflitam plenamente as aspirações democráticas do povo de Hong Kong", defende Occupy.
Em caso de recusa, o "movimento vai se intensificar", adverte.
"Nosso objetivo é fazer o governo ceder", declarou o líder estudantil Wong Hon-Leung.
Mas o chefe do Executivo, Leung Chun-ying, garantiu durante uma coletiva de imprensa a sua "determinação para lutar contra as ações ilegais de ocupação". As autoridades locais, no entanto, devem realizar novas consultas públicas sobre a reforma, lembrou.
Para o analista político Sonny Lo, esta última campanha marcou uma virada. "A partir de agora, haverá mais confrontos, talvez violentos, entre a polícia e os cidadãos", afirmou à AFP.
Mas Pequim mantém sua posição e uma solução ao conflito parece difícil. Pequim expressou neste domingo sua confiança nas autoridades de Hong Kong para lidar com a situação.
Pequim "se opõe fortemente a qualquer atividade ilegal que possa afetar o estado de direito e colocar em risco a paz social" e "apoia firmemente" o governo local, declarou um porta-voz do Bureau de Assuntos de Hong Kong e Macau, citado pela agência oficial de notícias Xinhua.