UE: sem compromisso dos EUA, cúpula do clima em Paris fracassará

A China já anunciou a intenção de estabelecer um teto para as suas emissões a partir de 2016
Da AFP
Publicado em 28/10/2014 às 15:50


A conferência das Nações Unidas sobre o Clima, que será realizada em 2015 em Paris, será um fracasso se os Estados Unidos não se comprometerem com um objetivo "concreto e ambicioso" de redução de gases de efeito estufa, alertou a comissária europeia do Clima, Connie Hedegaard.

"A Europa fez o que devia fazer. Comprometeu-se a reduzir em pelo menos 40% suas emissões até 2030, com relação aos níveis de 1990. Mas a Europa não pode resolver sozinha o problema causado pelo aquecimento. Os Estados Unidos devem se comprometer com um objetivo ambicioso, e então, os chineses se comprometerão", explicou em entrevista à AFP.

É difícil quantificar o esforço que os Estados Unidos devem fazer, mas deverá ser importante se quiserem que seja confiável, destacou Hedegaard. "Em Copenhague, em 2009, eles se comprometeram a reduzir suas emissões em 3,6% até 2020 em comparação com os níveis de 1990, e não podem nem mesmo alcançar este objetivo", lamentou.

A União Europeia (UE) se comprometeu a reduzir em 20% até 2020, e alcança seu objetivo. "As emissões de gases de efeito estufa da UE caíram no ano passado, enquanto as dos EUA aumentaram", destacou.

As emissões de gases poluentes da UE representam 11% do total no mundo. Os Estados Unidos representariam 16% e a China, 29%. "O presidente (americano) Barack Obama prometeu que os Estados Unidos apresentarão seus objetivos durante 2015. Vamos ver como a maior economia do mundo assume suas responsabilidades", afirmou a comissária dinamarquesa.

Um dos objetivos esperados é que se concretize a redução de 30% das emissões das usinas térmicas americanas até 2030.

Connie Hedegaard espera ainda uma surpresa da China. "Os dirigentes chineses anunciaram na cúpula sobre o clima, em Nova York, que estavam estudando o momento em que começarão a reduzir suas emissões e como fazê-lo o quanto antes", lembrou.

"São sérios, pois qurem ser atores na tomada de decisões. Fazer isso até 2030 seria muito tardio. Uma data mais próxima seria um presente dado pela China ao mundo", avaliou.

A China já anunciou a intenção de estabelecer um teto para as suas emissões a partir de 2016.

Hedegaard deixará o cargo em 31 de outubro. O compromisso adotado na sexta-feira passada pelos dirigentes da UE de reduzir as emissões de gases poluentes em ao menos 40% até 2030 é considerado uma conquista dessa dinamarquesa. Ela defendeu a meta diante de seus colegas, liderados pelo alemão Guenther Oettinger, comissário de Energia e que defendia um esforço maior na questão.

"Tudo o que foi decidido será mantido. Sem marcha à ré", afirmou na sexta-feira o presidente em fim de mandato do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy.

Mas Hedegaard é lúcida. Os compromissos adotados pela UE para a cúpula de Copenhague em 2009 não impediram um fracasso e existe o risco de que o mesmo aconteça em dezembro de 2015, em Paris.

A comissária em fim de mandato mostra-se preocupada com a possibilidade de os líderes franceses, que organizam a conferência, reduzirem o compromisso para evitar pagar o preço político de um fracasso. "Não há nada mais fácil do que reduzir as ambições quando as coisas ficam complicadas", afirmou.

"Mas não é suficiente conseguir algo em Paris. Devemos obter algo suficientemente ambicioso para permitir limitar o aquecimento a 2º C", afirmou.

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