Pela segunda noite consecutiva, a cidade de Nova Iorque parou em decorrência protestos contra a decisão de um júri de não indiciar Daniel Pantaleo, policial branco que matou um homem negro por sufocamento durante uma abordagem em julho.
Maiores do que as manifestações na noite de quarta-feira (3), nas quais 83 foram presos, os protestos desta quinta (4) reuniram milhares em vários pontos da cidade. Dezenas de pessoas foram detidas, mas a polícia não deu detalhes.
Ao menos 2.000 pessoas, em sua maioria jovens brancos, negros e pardos, se concentraram em Foley Square, no sul de Manhattan, pedindo "Justiça já" e prometendo fechar a cidade caso suas reivindicações não sejam atendidas.
Muitos carregavam cartazes com a frase "As vidas dos negros são importantes", que virou o lema dos manifestantes após decisão semelhante em Ferguson, Missouri, na semana passada.
Também foi possível ouvir por diversas vezes o grito "Nós não conseguimos respirar", em referência às últimas palavras de Eric Garner, deitado no chão enquanto Pantaleo lhe aplicava uma "gravata" e outros quatro policiais faziam pressão sobre seu corpo. A ação foi gravada em vídeo.
"Eu já fui preso apenas por estar na esquina conversando com o meu amigo à noite. E essa é uma das razões para estar protestando, porque eu já vi por mim mesmo como a polícia trata os negros e pardos", disse Malik Wormsby, um jovem negro de 18 anos.
"Para a minha sorte, eu só fui detido, mas poderia ser muito pior, como vimos em casos como o de Eric Garner."
Ebony Tyler, 38, foi ao protesto acompanhada dos filhos de 8 e 9 anos, que seguravam cartazes com os dizeres "Policie a polícia". "Estou cansada de ver homens negros sendo mortos nessa cidade e em todo o país", disse.
"Eu não entendo por que pequenos meninos negros se tornar grandes e assustadores adultos para as pessoas. Eu me preocupo com o futuro dos meus filhos."
O grupo saiu de Foley Square e andou entre os carros por vários quarteirões até chegar à via expressa do West Side, às margens do rio Hudson, bloqueando as duas pistas. Ao menos três helicópteros acompanhavam a movimentação.
Outros protestos causaram o fechamento parcial da ponte do Brooklyn e dos túneis Lincoln e Holland ao longo da noite.
A polícia, que acompanhou os manifestantes ao longo de todo o trajeto no sul de Manhattan, tentou dispersar o protesto por volta das 21h (0h do horário brasileiro). Houve reação e algumas pessoas foram detidas.
Ao longo da noite, dezenas de manifestantes foram presos, mas a polícia de Nova Iorque ainda não havia divulgado o número total de detenções.
Também houve protestos na capital norte-americana, Washington, em Chicago (Illinois) e Boston (Massachusetts).
REAÇÕES
Nesta quinta, o prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, anunciou que 22.000 policiais passarão por novo treinamento, que terá duração de três dias.
De acordo com Blasio, a nova abordagem incluirá o uso menor da força, quando possível, e um processo de "desescalada", que orienta os policiais a aliviarem a tensão no contato com a população.
A prefeitura também vai acelerar a implementação de um projeto-piloto para o uso de câmeras em uniformes.
Cerca de 60 agentes começarão a usar os equipamentos já neste final de semana --o prazo dado anteriormente era até o fim do ano.
A medida também foi incluída no plano do presidente Barack Obama para restaurar a confiança da população na força policial, anunciado na terça.
O caso de Eric Garner, no entanto, é um golpe contra a medida, já que sua morte foi gravada e isso não mudou o resultado do júri.
"Eu acho que Obama tem que economizar os milhões de dólares que vai gastar para colocar câmeras nos uniformes de policiais, porque as câmeras não importam. Nós temos imagens do assassinato de Eric Garner e ainda assim não houve indiciamento", disse uma manifestante em Nova Iorque.