A Coreia do Norte foi alvo de uma enxurrada de críticas na reunião do Conselho de Segurança da ONU, na segunda-feira (22).
Durante a primeira reunião do Conselho completamente dedicada à situação dos direitos humanos na Coreia do Norte, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Samantha Power, liderou as acusações contra o regime comunista no poder em Pyongyang.
Com base em um relatório da ONU publicado em fevereiro passado, Power citou testemunhos de ex-prisioneiros de campos de trabalho norte-coreanos que relatam um sem-número de "atrocidades": presos obrigados a comer raízes, ou ratos, para sobreviver, sendo agredidos e submetidos a "castigos sádicos".
Coletados e reunidos por uma comissão de investigação da ONU, esses depoimentos "mostram que os norte-coreanos vivem um pesadelo", frisou Samantha.
Esses abusos representam, segundo ela, "uma ameaça para a paz e para a segurança internacional".
O Conselho "deve falar regularmente dos direitos humanos na Coreia do Norte" depois dessa primeira reunião, e "enquanto esses crimes continuarem", defendeu a embaixadora dos EUA.
A representante americana recomendou que o Conselho "examine a recomendação" da Comissão e da Assembleia Geral da ONU de julgar, no Tribunal Penal Internacional, os crimes contra a humanidade que estariam sendo cometidos pela Coreia do Norte.
O pedido contou com o apoio de outros países ocidentais como França, Austrália e Reino Unido. Segundo fontes diplomáticas da ONU, porém, a China - única aliada de Pyongyang - usará seu direito a veto diante de qualquer tentativa de levar esse caso ao TPI.
o embaixador francês na organização, François Delattre, também denunciou uma "mecânica terrível, a do regime de Pyongyang para submeter seu povo".
Para o embaixador britânico nas Nações Unidas, Mark Lyall Grant, a comissão de investigação da ONU "abriu os olhos" da comunidade internacional.
Pyongyang ameaça com represálias
A Coreia do Norte rebateu as críticas, ameaçando adotar represálias. Pyongyang não enviou representante para a reunião do Conselho.
O embaixador sul-coreano na organização, Oh Joon, considerou a reunião importante.
"Milhões de sul-coreanos têm parentes que vivem no norte", lembrou. "Ficamos com o coração partido ao ler os testemunhos compilados pela ONU", completou.
Para ele, ir à CPI "não é o único caminho" possível, devendo-se buscar "uma cooperação sobre os direitos humanos com a Coreia do Norte".
A China tentou, sem sucesso, opor-se a esta reunião inédita do Conselho de Segurança da ONU, mas ficou em minoria durante a votação do procedimento que permitia o encontro. Com 11 votos a favor, dois contra (China e Rússia) e duas abstenções (Chade e Nigéria) entre os 15 países-membro, a reunião aconteceu.
Na votação, o embaixador chinês na ONU, Liu Jieyi, argumentou que o tema de direitos humanos não é de responsabilidade do Conselho.
Embora o órgão não tenha tomado qualquer decisão, associações de defesa dos direitos humanos acreditam que essa iniciativa marca um ponto de inflexão.
"Hoje, o Conselho advertiu Pyongyang que as décadas de crueldade contra seu povo devem terminar", disse o diretor-executivo da ONG Human Rights Watch, Kenneth Roth.
A Coreia do Norte já foi alvo de sanções internacionais, após ter realizado três testes nucleares e o lançamento de mísseis balísticos, mas esta é a primeira vez que o Conselho de Segurança se reúne para tratar, especificamente, do tema.
A embaixadora americana se referiu brevemente ao ataque cibernético à Sony Pictures, pelo qual Washington responsabiliza a Coreia do Norte. Pyongyang nega qualquer envolvimento no episódio.
"Não satisfeito com negar a liberdade de expressão a seus próprios cidadãos, o regime da Coreia do Norte agora parece estar decidido a impedir que nossa nação usufrua dessa liberdade fundamental", declarou.
O ciberataque contra a Sony Pictures, o maior desta natureza contra uma empresa americana, segundo o FBI, obrigou o estúdio a cancelar a estreia da comédia "A Entrevista", uma sátira sobre um complô fictício da CIA para assassinar o dirigente norte-coreano Kim Jong-Un. Pyongyang nega qualquer responsabilidade no ataque.
Na segunda-feira, todas as conexões de internet na Coreia do Norte permaneceram interrompidas por mais de nove horas, segundo analistas, que sugerem que o país comunista pode ter sido alvo de represálias.