A milícia xiita Ansaruallah anunciou nesta sexta-feira a dissolução do Parlamento iemenita e a criação de um Conselho presidencial de cinco membros, consolidando seu controle sobre o Iêmen, privado de poder executivo há duas semanas.
O Iêmen, um aliado dos Estados Unidos na luta contra a Al-Qaeda, está mergulhado em uma profunda crise política desde a renúncia em 22 de janeiro do presidente Abdi Rabbo Mansour Hadi e de seu governo, dois dias após a tomada do palácio presidencial pelos milicianos xiitas, chamados huthis.
Em uma "declaração constitucional" tornada pública a partir do palácio presidencial, ocupado pela milícia em 20 de janeiro, os xiitas dissolveram o Parlamento e criaram um Conselho presidencial de cinco membros, que deve eleger um Conselho Nacional de 551 membros, em substituição ao Parlamento dissolvido.
O Conselho Presidencial deve, por sua vez, formar um governo de competência nacional por um período de transição, que a milícia fixou em dois anos.
Durante este período, a nova liderança será encarregada de redigir uma nova Constituição, a ser submetida a referendo, e convocar eleições parlamentares e presidenciais, de acordo com o texto.
O documento é assinado pelo "presidente do Comitê Revolucionário, Mohamed Ali al-Huthi", um parente do líder da milícia xiita Ansaruallah, Abdel Malek al-Huthi.
Este comitê revolucionário "tomará todas as medidas e providências para defender a soberania do país, garantindo estabilidade e segurança e os direitos e liberdades dos cidadãos", diz o documento.
Também caberá ao Comitê Revolucionário determinar "as competências do Conselho Nacional, do Conselho Presidencial e do governo", segundo o texto.
A "declaração constitucional" foi lida em uma cerimônia na presença de figuras tribais e militares, mas também dos ministros da Defesa e do Interior do governo passado, que renunciou há duas semanas, no mesmo dia que o presidente Hadi.
Também estiveram presentes figuras políticas próximas ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh, que deixou o cargo em fevereiro de 2012, sob a pressão das ruas, e que agora apresenta-se como um aliado dos huthis.
Enquanto os milicianos celebram este anúncio nas ruas de Sanaa, rigidamente controladas, um grupo de jovens ativistas, líderes do levante de 2011 contra Saleh, rejeitou em um comunicado "a hegemonia das milícias huthis" no país.
Já as tribos de Marib, uma província rica em hidrocarbonetos, expressaram sua rejeição ao novo poder. "Rejeitamos os autores do golpe de Estado em Sanaa", declarou à AFP o xeque Saleh al-Anjaf.
As milícias xiitas, cuja fortaleza está no norte do país, entraram na capital em setembro. Seus membros tomaram o controle de vários prédios do governo pela força, forçando o executivo a renunciar. Ao mesmo tempo, estenderam a sua influência para o centro do país, confrontando as tribos sunitas locais e combatentes da Al-Qaeda.