O ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn, julgado na França por proxenetismo, negou ter cometido qualquer crime ou delito de ordem sexual, reafirmando ignorar a presença de prostituras nas festas libertinas com amigos.
O ex-político francês que teve sua carreira arruinada por sua grande paixão pelas mulheres, também negou qualquer papel de instigador. "Eu me considero em nada organizador dessas noites. Eu não tinha tempo para organizar qualquer evento", declarou durante a audiência.
Além disso, ele declarou não gostar de relações sexuais pagas. "Isso não me agrada, eu gosto é da festa", insistiu.
Sempre com as mãos cruzadas, Strauss-Kahn parecia tenso ao comparecer perante à Justiça para o início dos trabalhos que devem durar três dias no tribunal de Lille (norte).
Ele manteve a sua linha de defesa adotada desde o início do caso, que o seu envolvimento junto a outros notáveis locais e ao proprietário de um bordel na Bélgica virou um circo judicial na França.
Ao presidente o tribunal que lhe perguntou se ele tinha "mudado de ideia", Strauss-Kahn disse: "Sobre o conhecimento da prostituição? Não".
Ele minimizou a frequência das festas, alegando terem sido realizados apenas uns "quatro encontros por ano, durante dois anos".
A audiência começou pouco antes das 10h00 GMT (8h00 de Brasília), com a leitura pelo tribunal de uma carta enviada pelo próprio Strauss-Kahn a especialistas psiquiátricos encarregados de analisar sua personalidade.
"Eu não cometi nenhum crime ou delito", ele escreveu.
DSK, que era considerado o favorito para a eleição presidencial de 2012 na França, sempre alegou ignorar que suas parceiras eram prostitutas, dizendo tratar-se de uma simples libertinagem consentida entre adultos.
O ex-diretor do FMI pode ser condenado a uma pena máxima de 10 anos de prisão e uma multa de 1,5 milhão de euros por proxenetismo agravado neste julgamento.
'Parecia satisfeito'
"Mounia", uma ex-prostituta, declarou nesta terça-feira que nunca falou de "dinheiro, preço ou nada parecido" com ele, durante uma festa em um hotel chique em Paris.
Ela reafirmou ter sido avisada da identidade de seu prestigioso cliente por um empresário fascinado por Strauss-Kahn, David Roquet, que a recrutou após uma entrevista para ver se ela poderia "agradar a este senhor".
A voz embargada de Mounia sumiu ao tentar relatar o que aconteceu naquela noite. Ela mencionou um encontro "brutal, mas consentido com DSK". "Foi o seu sorriso que me impressionou desde o início até o fim. Ele parecia satisfeito com o que estava fazendo", afirmou a jovem.
Até mesmo a acusação concorda que Dominique Strauss-Kahn, provavelmente, nunca pagou uma prostituta nas festas com o seu círculo de amigos que, além de David Roquet, incluia outro empresário, Fabrice Paszkowski, e um agente da polícia, Jean-Christophe Lagarde.
A principal suspeita é que ele era o "rei da festa" dessas orgias no norte da França, Paris e Washington, sede do FMI, onde foram organizadas três viagens quando ainda dirigia a instituição.
Seus advogados denunciaram uma interpretação abusiva da lei e motivações "política, ideológica, moral".
O dia começou com uma ação de três ativistas do Femen que, de topless, avançaram e se jogaram sobre o carro de Dominique Strauss-Kahn, na chegada do ex-diretor do FMI ao seu julgamento.
Gritando "macs-clientes declarados culpados", as três ativistas pegaram de surpresa os policiais em frente ao tribunal, uma delas chegando a escalar o capô do sedan com vidros escuros que transportava DSK, e as outras duas cercando o veículo antes de serem todas detidas.
O nome de Strauss-Kahn apareceu publicamente no caso de Lille em outubro de 2011, quando pediu aos juízes que fosse ouvido para impedir "insinuações maldosas" a seu respeito.
Na época, DSK acabara de escapar das garras da justiça americana, após o escândalo do hotel Sofitel de Nova York, que havia destruído sua carreira cinco meses antes, quando uma empregada doméstica o acusou de estupro.
O caso terminou no final de 2012 com um acordo financeiro confidencial entre o ex-chefe do FMI e sua vítima.