Após 16 horas de negociações em Minsk para um cessar-fogo na Ucrânia, a chanceler alemã, Angela Merkel, seguiu diretamente a Bruxelas nesta quinta-feira para participar de uma cúpula europeia, onde também deverá estar à frente das negociações sobre a crise grega.
Após o acordo alcançado com os presidentes russo, Vladimir Putin, ucraniano, Petro Poroshenko, e francês, François Hollande, Merkel admitiu que a crise está longe do fim. Mas seu envolvimento ao lado do presidente francês - fundamental para dar peso à posição europeia - tornou possível uma nova esperança de paz no leste da Ucrânia.
"Quando estamos juntos, franceses e alemães, temos plena consciência do poder em escala global", declarou o presidente Hollande no início de fevereiro.
No entanto, o peso político da líder alemã e seu ativismo é mais frequentemente evidenciado, depois que a Alemanha mudou completamente de dimensão sob a sua liderança desde 2005.
Filha de um pastor, vinda da antiga Alemanha Oriental comunista e fluente em russo, Merkel é a líder ocidental que mais discutiu com Putin para manter as negociações, com mais de 40 telefonemas desde o início da crise ucraniana, há mais de um ano.
Enquanto os Estados Unidos já se mostravam impacientes e consideravam um fornecimento de armas para o exército ucraniano, em dificuldades ante os separatistas pró-russos, ela pediu na segunda-feira ao presidente americano, Barack Obama, uma chance para a paz.
Nesta quinta-feira, esta mulher que o jornal Bild, o mais lido na Europa, chamou de "a chanceler do mundo", não conseguiu esconder as olheiras.
Ela emendou desde 5 de fevereiro uma viagem a Kiev, em seguida a Moscou, seguida da Conferência sobre a Segurança de Munique, no dia 7 e, na sequência, uma visita a Washington com um escala em Ottawa. De volta a Berlim, ela presidiu na quarta-feira o seu gabinete e, em seguida, foi ao funeral do ex-presidente alemão Richard von Weizsäcker... Tudo isso antes de voar para Minsk.
Seguiu-se uma maratona diplomática de 16 horas para negociar um cessar-fogo na Ucrânia e, imediatamente depois, voou para Bruxelas para a cúpula da UE.
"Sem Merkel nada funcionaria no cenário europeu", avaliou nesta quinta-feira o jornal austríaco Die Presse, acrescentando: "quem, sem ser Merkel, poderia trazer o presidente russo Vladimir Putin à mesa de negociação?".
Mais surpreendentemente, Dietmar Bartsch, deputado da esquerda radical alemã Die Linke considerou que ela "iniciou uma desescalada (...) Podemos todos nos sentir orgulhosos da nossa chanceler".
Questionada há dois anos sobre sua baixa necessidade de sono, Merkel, de 60 anos, confessou: "eu possuo capacidades dignas de um camelo (...) Uma certa aptidão para acumular".
'Pessoa política mais perspicaz da Europa'
George Friedman, do centro reflexão americano Stratfor, ressalta as mudanças pelas quais a Alemanha passou. De "anão diplomático", tornou-se poderosa graças à chanceler. Uma evolução que lhe valeu uma popularidade duradoura e única na Europa.
"É interessante notar os progressos realizados em um curto espaço de tempo pela Alemanha", considera o analista.
Na esteira da crise do euro, a Alemanha já havia mostrado toda a sua desinibição, controlando todas as alavancas da Europa econômica, impondo uma linha de austeridade até então muito contestada.
Em plena batalha entre Berlim/Bruxelas e Atenas sobre o prosseguimento das reformas e a amortização da dívida, o elogio mais inesperado veio do novo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis. Ela "é, de longe, a pessoa política mais perspicaz da Europa", declarou nesta quinta-feira ao jornal Stern.
Mas o compromisso de Angela Merkel é eficaz? "O conflito na Ucrânia e a crise do euro: apesar de um grande compromisso, Angela Merkel não avança na resolução de conflitos na Europa (...) e sua influência é limitada", observou a edição online desta semana do semanário Spiegel.
"A pretensão de Merkel de explicar aos franceses, gregos, italianos e espanhóis como manter um orçamento ao modo alemão provoca rejeição nesses países. O populismo anti-euro tem ganhado terreno e a situação não está melhorando", sublinhou o autor, Roland Nelles.