O cessar-fogo concluído entre Kiev e os rebeldes entrou em vigor neste sábado às 22H00 GMT (20H00 de Brasília), a primeira etapa de um plano de paz destinado a por fim a um conflito que já deixou mais de 5.500 mortes em dez meses no leste separatista da Ucrânia.
Tiros de artilharia prosseguiam em Donetsk, reduto dos separatistas, no leste ucraniano, logo após o início do cessar-fogo, mas foram interrompidos rapidamente. Aparentemente, nas primeiras horas da entrada em vigor, o cessar-fogo era respeitado pelas duas partes.
O presidente russo Vladimir Putin reafirmou, após uma conversa telefônica com seu colega francês François Hollande e a chanceler Angela Merkel, seu compromisso a respeito do cessar-fogo, segundo a sede da presidência francesa.
Os três também concordaram em realizar um primeiro balanço neste domingo (15) sobre a aplicação do cessar-fogo.
O presidente Barack Obama, por sua vez, imediatamente expressou a seu colega ucraniano sua solidariedade e profunda preocupação com a violência no leste separatista da Ucrânia.
"O presidente falou hoje com o presidente ucraniano Poroshenko para expressar sua simpatia pelo aumento do número de vítimas do conflito no leste da Ucrânia e sua profunda preocupação com a violência em curso, particularmente em torno de Debaltseve", afirma um comunicado da Casa Branca.
Obama e Poroshenko "enfatizaram a necessidade de que todos os signatários implementem o cessar-fogo e os protocolos do acordo alcançado em Minsk em setembro passado e refirmado pelo Plano de Implementação de Minsk esta semana", afirma o texto.
Combates em Debaltseve
Ao longo do sábado, separatistas pró-Rússia intensificaram os ataques contra as cidades estratégicas do leste da Ucrânia.
Os principais combates eram registrados em Debaltseve, cidade ferroviária estratégica entre as capitais rebeldes de Donetsk e Lugansk, e no porto de Mariupol, no Mar de Azov, indicou o Exército da Ucrânia.
Ao menos 14 pessoas, oito militares ucranianos e seis civis, morreram nas últimas 24 horas o leste do país, depois dos 28 mortos da véspera.
"Os rebeldes destroem Debaltseve. Os disparos de artilharia contra os prédios residenciais e administrativos não param. A cidade está em chamas", afirmou o o chefe da polícia regional do governo, Viacheslav Abroskin, em sua página no Facebook.
A evolução da situação nestes dois pontos de tensão e nas ruínas do aeroporto de Donetsk são um teste importante para o cessar-fogo acertado na última quinta-feira dentro dos acordos de Minsk 2.
O cessar-fogo foi fechado após uma sessão maratônica de negociações entre os presidentes da Ucrânia, da Rússia, da França, e a chanceler alemã.
"Os rebeldes, com lança-foguetes múltiplos e tanques, realizaram várias incursões" contra as posições ucranianas no sudeste de Debaltseve, onde as tropas do país estavam praticamente cercadas, indicou ainda o Exército ucraniano.
Em Debaltseve, há sistemas de defesa antiaérea "russos, e não separatistas", afirmou o embaixador americano na Ucrânia, Geoffrey Pyatt.
Voluntários do regimento Azov, que defende Mariupol, afirmaram que "blindados russos sem identificação entraram em território ucraniano a partir de Novoazovsk", cidade litorânea na fronteira com a Rússia e sob controle rebelde localizada a 30km de Mariupol.
Os combates também se intensificam nas proximidades de Mariupol. O exército ucraniano assegurou ter localizado 14 voos de drones inimigos na direção desta cidade.
"O inimigo começou a atacar às 5h nossas posições em Chirokin. Usa tanques e artilharia", afirmou o regimento. Chirokin fica a 10km de Mariupol, cuja ocupação seria uma etapa-chave para a construção de uma ponte entre Rússia e Crimeia, península ucraniana anexada em março.
Kiev e os países ocidentais afirmam que o Kremlin incentiva os rebeldes do leste, com o fornecimento de armas e tropas, o que Moscou nega.
O texto do acordo Minsk 2, fechado após 16 horas de negociação entre os líderes da Rússia, Ucrânia, França e Alemanha, projetou esperança, no momento em que o conflito se agrava, após 10 meses de hostilidades, que deixaram 5,5 mil mortos.
O cessar-fogo será a primeira prova do compromisso de Kiev e dos rebeldes com a assinatura do acordo. Com os separatistas lutando para conquistar o que puderem de território antes da entrada em vigor do documento, existe o temor de que a trégua não seja respeitada.
Os Estados Unidos voltaram a acusar Moscou de continuar enviando armas pesadas ao leste da Ucrânia. "Estamos muito preocupados com a continuação dos combates e com relatórios sobre tanques e sistemas de mísseis suplementares que chegaram nos últimos dias da Rússia", declarou a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki.
O presidente ucraniano também acusou a Rússia de continuar presente no leste da Ucrânia.
A maioria dos especialistas acredita que o novo acordo de paz é insuficiente, uma vez que não prevê mecanismos concretos para resolver questões litigiosas. Não menciona, por exemplo, o controle da fronteira com a Rússia, da qual 400 quilômetros estão nas mãos dos rebeldes, e pela qual, segundo Kiev e o Ocidente, a Rússia infiltra armas e tropas.