O ex-secretário-geral da ONU e Prêmio Nobel da Paz 2001, Kofi Annan, desembarcou nesta quinta-feira em Havana para encontros com os negociadores de paz do governo colombiano e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Annan chegou procedente de Bogotá, por volta de meio-dia (14h em Brasília), informou a televisão cubana. Depois dos encontros com cada delegação, haverá uma reunião conjunta de todos os envolvidos no processo.
Na véspera, o ex-secretário-geral da ONU havia declarado que um acordo de paz entre o governo e a guerrilha deve avançar de mãos dadas com a Justiça.
"A Justiça não pode ser um impedimento para a paz. É um sócio absolutamente essencial para ela", defendeu Annan, acrescentando que a Justiça transicional "deve cumprir os requisitos mínimos internacionais".
Este tema causa profundas divisões na Colômbia e entre ambas as delegações de paz, que estão negociando desde novembro de 2012 em Havana. Segundo os rebeldes, o governo pretende levar os guerrilheiros para a prisão, após o fim do conflito armado de meio século.
"Propomos a organização e a realização de um debate nacional sobre a justiça aplicável (...). Seus resultados devem levar aos correspondentes desenhos normativos", disse à imprensa nesta quinta-feira o comandante guerrilheiro Pablo Catatumbo.
"Nós nos distanciamos de qualquer propósito de tratamento reducionista e punitivo do nosso agir guerrilheiro", acrescentou Catatumbo.
Fontes das duas delegações disseram à AFP que "é possível" que o novo enviado especial americano para o processo de paz na Colômbia, Bernie Aronson, chegue a Cuba nos próximos dias.
Uma fonte da equipe do governo explicou que Aronson terá reuniões em separado com cada delegação, sem assistir às sessões de negociação a portas fechadas, diferentemente dos diplomatas dos países "garantes" do processo de paz (Noruega e Cuba) e "observadores" (Chile e Venezuela).
"Ele não é garante do processo de paz, não é observador, não vem mediar. Vem acompanhar os temas, não vai ser parte da mesa de diálogo", esclareceu a fonte consultada pela AFP.
Washington confirmou que Bernie Aronson pode viajar para Cuba, mas não especificou a data.
"Os planos de viagem do senhor Aronson serão conduzidos pelo conteúdo das conversas e por nossas consultas com o governo colombiano. Considerando-se que as conversas acontecem em Havana, ele pode viajar para lá", disse um funcionário do Departamento de Estado americano à AFP.
Nesta quinta, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, recebeu o enviado americano. A reunião entre Santos e Aronson aconteceu na Casa presidencial de Nariño, em Bogotá, informou o governo colombiano em nota na página institucional.
"Os dois conversaram sobre a situação atual do processo e a contribuição que o enviado especial pode dar para essas negociações", resumiu a presidência.
O nome de Bernard Aronson foi anunciado na última sexta-feira. Ele já trabalhou como subsecretário de Estado para a América Latina na resolução de conflitos em El Salvador e Nicarágua.