O líder opositor venezuelano Henrique Capriles assegurou que o governo socialista de Nicolás Maduro, em uma posição de fragilidade nas pesquisas de opinião e ante uma severa crise econômica, é capaz de suspender as eleições legislativas previstas para o final do ano.
"Nunca o governo teve um cenário com essa diferença (nas pesquisas) antes de um processo eleitoral. Agora tem. Serão capazes de suspender a votação? Eu acho que são capazes de qualquer coisa", assegurou Caprilles em uma coletiva com correspondentes estrangeiros na terça-feira.
O governador do rico estado de Miranda (norte) garante que o governo está querendo meter medo nas pessoas e advertiu que a ideia de suspender as eleições "é uma bomba que o governo pode fazer explodir".
Maduro, herdeiro político do falecido Hugo Chávez, anunciou há um mês que, em junho, os partidários do governo disputarão primárias para eleger seus candidatos. A oposição fará a mesma coisa em maio.
Com as pesquisas a favor com mais de 20 pontos, e um evidente descontentamento social ante a inflação, recessão e escassez de produtos em um país com as mais reservas mundiais de petróleo, o duas vezes candidato presidencial considera que estas eleições são decisivas "para derrotar constitucionalmente o governo".
"Não há razão para perder", afirmou Capriles, que não se pronunciou ao ser indagado se uma eventual vitória da oposição nas legislativas abriria as portas para um referendo revogatório contra Maduro a partir de 2016, como permite a Constituição.
Presos políticos
Capriles, um advogado de 42 anos com uma dilatada carreira política, concedeu esta entrevista durante uma visita a uma escola pública no bairro de Los Teques (capital do estado).
A poucos metros dali, fica a prisão de Ramo Verde, onde se encontram detidos outros dois líderes opositores, Leopoldo López e Antonio Ledezma, o primeiro acusado de incitar a violência nos protetos antigovernamentais de 2014 e o segundo - prefeito de Caracas - por supostos planos conspiratórios.
Apontando para a prisão, Capriles assegurou que uma vitória da oposição nas legislativas servirá para, entre outras coisas, anistiar os presos políticos e despolitizar as instituições.
López, dirigente da formação Vontade Popular (direita), Ledezma, e a deputada destituída María Corina Machado foram os promotores, entre janeiro e maio de 2014, de "A saída", a tática de tirar o governo à força através de manifestações de rua que se tornaram violentas e deixaram 43 mortos, centenas de feridos e milhares de detidos.
Há poucas semanas, os três - considerados a ala radical da oposição - assinaram um "Acordo para a Transição", que valeu a Ledezma, figura veterana da política venezuelana, a detenção e posterior prisão preventiva.
Nas duas ocasiões, Capriles - considerado da ala moderada - não se manifestou, o que evidencia, para muitos, a fratura que há na oposição, apesar de nas três últimas eleições terem se junta a uma mesma coalizão, a Mesa da Unidade Democrática (MUD) para tentar derrotar o monolítico chavismo.
"Você não pode falar de transição até que concretize uma vitória eleitoral", explicou Capriles, pedindo a todas as forças opositoras que tenham uma agenda comum.
O chavismo reivindica que em seus 15 anos de gestão venceu 18 das 19 eleições, contando presidenciais, legislativas, regionais, municipais e referendos constitucionais.