Aproximação com Cuba: a corrida entre Estados Unidos e União Europeia começou

Seus esforços conjuntos podem contribuir para que o regime comunista da ilha faça concessões na área de direitos humanos
Da AFP
Publicado em 06/03/2015 às 17:19
Seus esforços conjuntos podem contribuir para que o regime comunista da ilha faça concessões na área de direitos humanos Foto: Foto: ESTUDIOS REVOLUCION / AFP


Estados Unidos e União Europeia parecem rivais em seus processos de aproximação com Cuba, mas seus esforços conjuntos podem contribuir para que o regime comunista da ilha faça concessões na área de direitos humanos.

Há 11 meses representantes da UE e Cuba, cujas relações estão oficialmente congeladas desde 2003, negociam um "Acordo de Diálogo Político e Cooperação". Para a UE, a ideia é normalizar os laços com a ilha e tentar convencer o governo de Havana a empreender reformas no campo dos direitos humanos. 

Há dois meses e meio, Washington fez o mesmo, ao anunciar a aproximação com Cuba depois de mais de meio século de antagonismo e desconfiança.

Ao reconhecer o fracasso de uma política que não funciona há tempos, o presidente americano Barack Obama buscou um novo método para tentar impulsionar os direitos civis e políticos na ilha.

Em janeiro, a UE elogiou o "histórico reposicionamento" e alguns países do bloco pediram a aceleração do processo de negociações do bloco com Havana, preocupados em não perder terreno em relação a Washington, principalmente em matéria comercial. Foi o caso da Espanha, que ressaltou "a possibilidade de as empresas da UE competirem com as empresas dos Estados Unidos", que desembarcarão em massa se houver uma abertura na ilha. 

 

Concorrência comercial

"É evidente que os europeus veem os Estados Unidos como um aliado, mas também como um competidor em termos de investimentos e intercâmbio comercial com Cuba. É um interesse político, mas também é claramente econômico", diz Peter Schechter, do Atlantic Council, um centro de estudos americano.

Em um sinal da vontade dos europeus de não ficar para trás, a presidência francesa anunciou na terça-feira que François Hollande cumprirá uma visita oficial à ilha em 11 de maio, na primeira viagem de um chefe de Estado francês a Cuba.

No momento, os europeus parecem ter a vantagem do calendário, pois se comprometeram antes, em abril de 2014, com a normalização das relações bilaterais e seus pontos de divergência são bem menos numerosos em comparação àquelas dos velhos inimigos de Cuba na Guerra Fria. 

Embora os americanos estejam em vias de restabelecer as relações diplomáticas com Cuba, com a possível reabertura de embaixadas em abril, alguns assuntos como o fim do embargo econômico e as indenizações pelos bens de  norte-americanos nacionalizados pela Revolução Cubana ainda estão longe de serem resolvidos. 

Ainda assim, Obama anunciou uma flexibilização das exportações para Cuba em matéria de telecomunicações e Internet e medidas favoráveis ao pequeno setor privado.

 

UE explora

Consultado pela AFP, um funcionário do Departamento de Estado diz não ver qualquer inconveniente em que haja negociações paralelas entre cubanos e europeus, sugerindo uma ação concertada para incitar o regime comunista a aceitar mudanças políticas e civis.

"Incentivamos a UE e todas as nações e organizações envolvidas em negociações diplomáticas com o governo cubano a aproveitar cada oportunidade pública e privada para apoiar um maior respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais em Cuba, e a possibilidade de que todos os cidadãos cubanos possam determinar o futuro político e econômico do país", diz o funcionário.

"Nossa nova política com Cuba ampliará nossas possibilidades de trabalhar com a União Europeia e outros parceiros globais para empoderar o povo cubano", acrescenta.

Ao fim da terceira rodada de negociações nesta quinta-feira em Havana, o negociador-chefe europeu, Christian Leffler, afirmou que não há uma "concorrência" entre UE e Estados Unidos nos processos de aproximação com Cuba.

"As duas séries de negociações não são contraditórias, mas complementares, embora o processo com os Estados Unidos tenha características muito específicas", opinou Marc Hanson, da ONG Washington Office for Latin America (WOLA).

Para o especialista, os europeus podem inclusive mostrar aos americanos que "um diálogo sério com os cubanos é perfeitamente possível".

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