Os países ocidentais e árabes acreditavam que a revolta na Síria passaria rapidamente às páginas negras da História, mas o presidente Bashar al-Assad está agora instalado solidamente no poder, apesar de quatro anos de uma guerra devastadora.
Antes vilipendiado em 2012, o homem forte de Damasco é, inclusive, considerado um interlocutor fundamental por um número cada vez maior de países que lutam contra o grupo Estado Islâmico (EI) no Oriente Médio.
"A posição de Assad melhorou no plano internacional", constata Volker Perthes, diretor do Instituto Alemão de Política Externa. "Estados Unidos, União Europeia e outros países já não pedem sua partida imediata", explica. A oposição no exílio já não condiciona o diálogo a sua renúncia, embora espere que esta acabe ocorrendo.
Por sua vez, Rússia e Irã continuam sendo os aliados mais fiéis de Assad. Perthes, autor de "Síria sob Assad", ressalta as recentes declarações nos "Estados Unidos ou nas capitais europeias, que indicam uma aceitação de fato, de maneira direta ou indireta, de sua permanência na presidência e na busca de uma coalizão de unidade nacional que possa incluir Assad e a oposição antijihadista".
"Com exceção de França, Grã-Bretanha e Dinamarca, que rejeitam qualquer papel de Assad no futuro da Síria, muitos países europeus pensam que depois de quatro anos esta posição já não é suportada", afirma um diplomata europeu.
Ele cita em especial Suécia, Áustria, Espanha, Romênia ou Polônia. Mas estes países "são muito fracos (diplomaticamente) para que sua voz seja ouvida", indica.
O secretário de Estado americano, John Kerry, descreveu claramente a nova situação: o presidente sírio "perdeu toda a legitimidade, mas não temos outra prioridade mais importante que desestabilizar e derrotar o Daesh (acrônimo em árabe do EI)", que controla vastos territórios da Síria e do Iraque, declarou.
Nuvens econômicas
Assad, brevemente considerado um reformador, antes de ser taxado de déspota por ter reprimido a sangue e fogo qualquer tipo de protesto, deve ter se alegrado com as declarações de 13 de fevereiro do mediador da ONU, Staffan de Mistura, que disse que ele formava parte da solução.
"O regime sírio, incluindo, é claro, seu dirigente, é o interlocutor da comunidade internacional, embora oficialmente os Estados ocidentais, turco e árabes não dialoguem com ele", destaca Suhail Belhadj, pesquisador do Instituto de Estudos Superiores Internacionais e de Desenvolvimento em Genebra e autor de "A Síria de Bashar al-Assad. Anatomia de um regime autoritário".
Assad pode se vangloriar de ter estabilizado a frente militar após as derrotas de seu exército perante os rebeldes no início da guerra. Inclusive conquistou vários avanços graças, sobretudo, ao apoio determinante do Hezbollah libanês e dos Guardiões da Revolução iranianos.
Atualmente, o regime controla 40% do território sírio - incluindo as grandes cidades, com exceção de Raqa (norte) e a metade de Aleppo (noroeste) - onde vive 60% da população.
Mas ainda está longe de vencer a batalha. "O regime se sente em uma posição de vantagem militarmente. Mas no futuro corre o risco de se ofuscar no plano econômico, já que seus dois principais apoios, Irã e Rússia, sofrem economicamente", explica David Lesch, autor de "Síria: a queda da casa Assad".
Para este professor de história do Oriente Médio na universidade Trinity de San Antonio (Estados Unidos), "o regime tem uma oportunidade diplomática", já que muitos países suavizaram sua posição.
E Assad deve ter pressa em negociar, já que "esta janela só permanecerá aberta por seis meses, antes que a campanha presidencial tome conta dos Estados Unidos, o que reduzirá a flexibilidade" de Washington.