Igreja polonesa sonha com um líder como João Paulo II

Apesar disso, o papa Francisco, que prega modéstia e caridade, tem grande popularidade entre os fiéis poloneses
Da AFP
Publicado em 01/04/2015 às 17:48
Apesar disso, o papa Francisco, que prega modéstia e caridade, tem grande popularidade entre os fiéis poloneses Foto: Foto: JANEK SKARZYNSKI / AFP


Dez anos depois da morte de João Paulo II, em 2 de abril de 2005, a igreja polonesa sente falta da liderança e do carisma desse papa, cuja imagem e homilias continuam sendo reproduzidas em seu país natal.

"A hierarquia eclesiástica sofre com a ausência de João Pablo II. Na igreja polonesa, dividida em várias correntes, falta mais do que nunca uma liderança forte", disse em entrevista à AFP Marcin Przeciszewski, chefe de redação da agência de notícias católica KAI.

João Paulo II "presidia a igreja universal, mas também era considerado o chefe informal da igreja polonesa e, quando era necessário, decidia os temas difíceis", lembrou.

A situação da Igreja polonesa continua sendo relativamente boa se comparada com a de outros países europeus, e a Polônia parece estar à margem da onda de secularização que afeta a Europa.

As estatísticas confirmam o bom desempenho da igreja polonesa, cuja reputação de "país exportador" com seus 30.000 sacerdotes, muitos dos quais descobriram sua vocação no pontificado de João Paulo II.

Em 2013, a taxa de participação na missa dominical nesse país de 38 milhões de habitantes, dos quais 80% de católicos, passou para abaixo de 40%, 39,1% precisamente, mas esse número é espetacular com relação a outros países como França ou Letônia, onde fica em 2% e 5% respectivamente, disse o sacerdote Wojciech Sadlon, do instituto de estatísticas da Igreja Católica.

Em 1982, sob o regime comunista, quando a igreja era um refúgio para os poloneses, a taxa de participação era de 57%, destacou Sadlon.

"Não se registra uma queda brusca, mas ano após ano a tendência é a baixa", comentou.

Nos últimos anos surgiram com força vários movimentos anticlericais, como o partido de Janusz Palikot, que em 2011, mediante uma campanha eleitoral contra a igreja, se transformou na terceira força do Parlamento.

Também surgiram iniciativas cívicas contra o financiamento do catecismo nas escolas.

Para os poloneses, cristãos ou não, Karol Wojtyla foi uma grande autoridade moral, um escudo natural contra os ataques da mídia anticlerical, ateus ou feministas.

Após sua morte a igreja polonesa se "sentiu ameaçada e se radicalizou", diz Jozefa Hennelowa, 90 anos, amiga de Wojtyla e jornalista da revista católica Tygodnik Powszechny.

Alguns católicos radicais, apoiados por alguns bispos, e a fundamentalista Rádio Maryja lutam para que se endureça a lei antiaborto polonesa.

Outros pedem a proibição absoluta da fecundação in vitro. O episcopado advertiu os deputados que votar a favor desse projeto implicava a "autoexclusão" da igreja.

Na próxima assembleia no Vaticano, os bispos poloneses vão votar contra o acesso dos divorciados à comunhão.

A Igreja polonesa foi afetada, por outro lado, pelos escândalos de pedofilia. O caso mais espetacular foi o do arcebispo polonês Jozef Wesolowski, ex-mensageiro do papa na República Dominicana, que debe ser julgado no Vaticano.

O papa Francisco, que prega modéstia e caridade, tem grande popularidade entre os fiéis poloneses, mas não é bem visto na hierarquia da igreja polonesa.

Alguns sacerdotes o consideram "muito liberal, inclusive marxista".

"A missão da igreja polonesa não pode se limitar a velar pela execução do testamento de João Paulo II. É preciso escutar o que diz o novo papa Francisco", disse Hennelowa, que lembrou a expectativa que existe com a viagem que o Sumo Pontífice deve fazer à Polônia em 2016.

Francisco participará da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontecerá em Cracóvia, cidade em que João Paulo II foi arcebispo.

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