O drama dos naufrágios de embarcações com migrantes no Mediterrâneo fez novas vítimas nesta quinta-feira (16), com 41 desaparecidos, segundo os sobreviventes, e doze homens cristãos jogados ao mar após uma briga por motivos religiosos com muçulmanos.
Este novo naufrágio, após o do último fim de semana no qual cerca de 400 pessoas teriam desaparecido, eleva a quase 950, se confirmados, o número de mortos no Mediterrâneo desde o início do ano.
Aos desaparecidos, somam-se os doze homens jogados no mar após uma briga por questões religiosas entre migrantes muçulmanos e cristãos. Quinze homens, muçulmanos da Costa do Marfim, Mali e Senegal, foram detidos ao desembarcar no porto de Palermo, na Sicília.
"Durante a travessia, os nigerianos e ganeses, minoria na embarcação, ameaçaram jogar no mar quinze passageiros", segundo indica um comunicado da polícia.
O crime teria sido motivado "pela fé cristã das vítimas, contrária à fé muçulmana dos agressores. As ameaças se concretizaram e 12 pessoas, todas nigerianas e ganesas, foram jogadas no mar Mediterrâneo, onde sucumbiram".
"Os sobreviventes teriam escapado da tentativa de afogamento, formando uma corrente humana", indica o comunicado, que cita detalhes apavorantes dados por "testemunhas em lágrimas".
Segundo fontes da justiça, citadas pela imprensa, "esses relatos coerentes" permitiram a reconstituição dos fatos.
Em um outro caso dramático, quatro migrantes, todos africanos, contaram, ao chegar a Trapani, na Sicília, que foram os únicos sobreviventes do naufrágio da embarcação em que estavam, que transportava cerca de 45 pessoas.
Segundo relataram, o velho bote inflável em que estavam esvaziou e afundou rapidamente.
Avião avista migrantes à deriva
Avistados por um avião, os náufragos foram salvos por um navio militar italiano, que só consegui resgatar essas quatro pessoas.
Essas frequentes tragédias parecem não desencorajar os migrantes, que continuam a tentar diariamente chegar à Europa a partir da costa da Líbia, em razão do caos reinante há meses neste país.
Mais de mil pessoas desembarcaram nesta quinta-feira na Itália, onde as prefeituras de Reggio de Calábria tentam gerenciar o fluxo de naufrágios e onde as autoridades reclamam mais ajuda e solidariedade da União Europeia.
Nesta quinta, quase 600 pessoas chegaram a Trapani, após terem sido resgatadas do mar pela Guarda Costeira italiana. Quase 900 outros são esperados nos dois outros portos da Sicília, segundo as autoridades italianas.
O ministro italiano das Relações Exteriores, Paolo Gentiloni, expressou seu descontentamento com a União Europeia. "O problema é europeu, mas o remédio é italiano, isso não está funcionando. A vigilância e o socorro marítimos pesam 90% em nossas costas", declarou.
No terreno, as autoridades locais expressam seu desencorajamento. Giovanni Muraca, prefeito de Reggio de Calábria, reconhece que esta cidade em plena crise econômica tem dificuldades para lidar com o problema dos migrantes.
Situação insustentável
"Esta situação está insustentável. Outros vão chegar, mas nós não estamos prontos", assegura por sua vez Giuseppe Princi, da associação "Nuova Solidarieta", cuja sede é requisitada para acolher os migrantes doentes em Salícia, na periferia de Reggio de Calábria.
Sem rumo, os imigrantes embarcam em ônibus. Somalis e eritreus, muito jovens e visivelmente cansados, muitos com ferimentos, vão para outras cidades italianas que também dizem estar lotadas e não ter a infraestrutura necessária para recebê-los.
No norte da Itália, o governador da Lombardia, uma das regiões mais ricas do país, se rebelou contra os novos pedidos de asilo, assim como a região vizinha de Veneto (noroeste).
"A Itália carrega um enorme fardo que deveria ser de toda a Europa quanto ao problema da imigração", declarou um porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, citado nesta quinta pela imprensa italiana.
Várias organizações internacionais e humanitárias também cobram da Europa mais ações para evitar novas tragédias.
Com o bom tempo e a primavera que se instala na região, mais de 10.500 chegadas foram registradas desde o início do mês na Itália, onde as estruturas que recebem os pedidos de asilo já acumulam 80.000 demandas.