O governo do Nepal decretou estado de emergência neste sábado (25) depois de um terremoto de magnitude 7,8 deixar mais de 1.130 mortos no país, incluindo dez em uma avalanche na região do Monte Everest. O tremor atingiu ainda outros três países vizinhos: Bangladesh, Tibete (China) e Índia.
Este foi o pior tremor a atingir a empobrecida nação asiática em mais de 80 anos. Ele foi registrado às 11h56 (3h11 no horário de Brasília), informou o USGS, centro de monitoramento de tremores dos EUA, e durou entre 30 segundos e dois minutos.
O epicentro do tremor ficou a 77 km noroeste da capital Katmandu, que sofreu grandes danos, e profundidade de apenas 15 km (enquanto menor a profundidade, maior o potencial de danos). A região mais atingida foi o vale de Katmandu, que é a região mais populosa do país com cerca de 2,5 milhões de pessoas -ao menos 634 das vítimas estavam nesta área e outras 300 na capital, segundo o porta-voz da polícia Kamal Singh Bam.
“As tarefas de resgate continuam. Tememos que o balanço possa subir a medida que escavamos os escombros”, disse.
O Itamaraty afirma que, até a tarde deste sábado (25), não havia registro de brasileiros entre as vítimas.
Uma réplica de magnitude 6,6 atingiu a região uma hora depois e ao menos outros 15 tremores menores foram registrados por horas após o evento.
Moradores correram de suas casas e prédios em pânico de que novos tremores causassem mais desabamentos. Imagens da região mostram dezenas de construções destruídas, além de grandes rachaduras nas ruas de Katmandu.
A capital abriga diversos monumentos históricos. Entre as construções danificadas estão a Torre Dharahara, de nove andares, um dos marcos do Nepal construído a mando da realeza como uma torre de observação em 1832.
A torre foi reduzida a escombros e há relatos de até 50 pessoas presas sob os escombros. O local costuma receber centenas de visitantes nos fins de semana, mas não se sabe quantos estavam no prédio no momento do tremor. O site de notícias Al Jazeera fala em cerca de 250.
Imagens registradas pelas agências de notícias mostram pessoas escavando os tijolos do prédio em busca de sobreviventes A praça Durbar, centro espiritual de Katmandu, também teve várias edificações históricas reduzidas a ruínas.
O impacto deixou ainda nuvens de fumaça por boa parte da capital e arredores.
“Nossa vila foi quase totalmente destruída. A maioria das casas estão ou enterradas por desmoronamentos ou danificadas pelo tremor”, disse Vim Tamang, da vila de Manglung, perto do epicentro.
Ele conta que metade dos moradores estão mortos ou desaparecidos. Os que sobreviveram se reuniram em uma área aberta. “Nós não sabemos o que fazer. Estamos nos sentindo perdidos”.
HOSPITAIS CHEIOS
Poucas horas após o tremor, os hospitais ficaram lotados. Pushpa Das, morador de Katmandu, foi atingido no braço por uma parede que desabou. Foi aterrorizador.
A terra estava mexendo... Estou esperando tratamento mas a equipe [DO HOSPITAL] está sobrecarregada, disse, segurando o braço ferido.
No estacionamento do Hospital Internacional Norvic, colchões foram colocados no chão para os pacientes que correram para sair do prédio durante o tremor.
Médicos e enfermeiras colocaram soro em alguns dos pacientes, outros recebiam oxigênio.
Após o tremor, o aeroporto internacional de Katmandu foi fechado.
Meteorologistas preveem chuva e tempestade para a noite deste sábado (25) e para este domingo (26), o que pode dificultar as buscas.
AVALANCHE
O terremoto causou uma avalanche no Monte Everest, deixando ao menos dez mortos.
Autoridades locais temem que haja mais alpinistas mortos ou feridos na montanha.
A avalanche cobriu parte da base para os alpinistas com destino ao Everest, de acordo com o Ministério de Turismo do Nepal. O número de mortos pode subir, pode incluir estrangeiros, assim como guias, disse.
Abril é um dos meses mais populares para escalar o Everest, antes de a chuva e as nuvens encobrirem a montanha do Himalaia no final do mês que vem.
Ao menos dois grupos de brasileiros estão em trilhas no país. Segundo afirmaram os guias à reportagem, estão todos bem.
NEPAL
O país possui características e regiões que atraem turistas para fazer trilhas e escaladas nas montanhas -o Nepal abriga 8 dos 10 maiores montes do mundo, inclusive o mais alto, o Everest.
O turismo é a principal fonte de renda do país, um dos mais pobres da Ásia. Em 2013, cerca de 800 mil visitantes estrangeiros estiveram por lá.
Um antigo reino hindu, que passou por muita turbulência política nos últimos 20 anos e agora é uma democracia parlamentarista, o Nepal apresenta alguns dos mais refinados exemplos da arquitetura real e religiosa hinduísta.
Além disso, é fortemente influenciado pelo budismo tibetano, já que é vizinho da hoje região chinesa e recebeu grande influxo de fugitivos da ocupação comunista de 1949. O sincretismo nas ruas é notável, e o cumprimento nacional exprime essa característica: Namastê (algo como o deus que está no meu coração saúda o que habita o seu, em sânscrito).