Apesar de crise, Cristina Kirchner abre museu faraônico na Argentina

Segundo o ministro de Planejamento (e também arquiteto) Júlio de Vido, responsável pela obra -iniciada há seis anos-, os custos foram de pouco mais de US$ 303 milhões (cerca de R$ 900 milhões), três vezes mais do que foi originalmente orçado
Folhapress
Publicado em 22/05/2015 às 20:51
Segundo o ministro de Planejamento (e também arquiteto) Júlio de Vido, responsável pela obra -iniciada há seis anos-, os custos foram de pouco mais de US$ 303 milhões (cerca de R$ 900 milhões), três vezes mais do que foi originalmente orçado Foto: Foto: Presidência da Argentina


A sala de concertos para 1.750 espectadores é uma estrutura de concreto azulada, em forma oval, que flutua no meio de um edifício de arquitetura do século 19. Da Alemanha, foi importado um órgão de 10 metros de altura e 3.500 tubos, que decora a parede dos fundos da sala, a qual é ainda adornada por um piano de cauda trazido do Japão. Dois pianos e uma celesta custaram 5 milhões de pesos (cerca de R$ 1,2 milhão) ao Tesouro argentino.

Restrição a importações, escassez de dólares, crise econômica, nada disso impediu que ficasse pronto o faraônico museu que o governo da presidente Cristina Kirchner acaba de inaugurar em Buenos Aires.

Com feitos grandiosos, como esse centro cultural que leva o nome do marido, morto em 2010, Cristina começa os preparativos para deixar o cargo, em dezembro, em grande estilo.

As atividades foram abertas na terça (19), com a inauguração de um museu em homenagem às vítimas da ditadura militar (outra bandeira política de Cristina) e terá seu auge com uma parada que atravessará a capital neste fim de semana, com o desfile da espada curva de San Martín.

Shows na Praça de Maio trarão o grupo cubano Buena Vista Social Club e o evento terminará com um evento na Basílica de Luján, na segunda (25).

O Centro Cultural Kirchner foi inaugurado na noite de quinta (21) e, nesta sexta (22), ele foi apresentado à imprensa. Mais de 170 profissionais se dividiam em grupos de 35 para percorrer o edifício, que tem nove andares, com mais de 40 salas de exposição, das quais uma em homenagem à Eva Peron e outra a Néstor Kirchner.

No espaço dedicado ao patrono, o diretor artístico Rodoldo Pagliere colocou um espelho que reflete imagens das planícies de Santa Cruz, província de onde vieram os Kirchner.

"A ideia era lavar o personagem político e deixar que o espectador tenha contato com o Néstor Kirchner que tem dentro de si", explicou. A sala terá obras exclusivamente dedicadas ao ex-presidente.

No último andar, uma cúpula de vidro, que pode ser iluminada de várias cores, divide dois mirantes, de onde se pode avistar o Puerto Madero e a Casa Rosada, a poucos metros dali.

Faltam muitas coisas a fazer -dois andares ainda estão em construção, os elevadores e as escadas rolantes funcionam mal e a praça em frente ainda é um canteiro de obras-, mas o Centro Cultural Kirchner certamente se tornará um ponto turístico na capital. E uma vitrine do kirchnerismo em Buenos Aires, reduto da oposição.

"Algum dia vamos poder construir nossos sonhos também na cidade de Buenos Aires", alfinetou Cristina durante a inauguração.

Segundo o ministro de Planejamento (e também arquiteto) Júlio de Vido, responsável pela obra -iniciada há seis anos-, os custos foram de pouco mais de US$ 303 milhões (cerca de R$ 900 milhões), três vezes mais do que foi originalmente orçado.

Ele chama de "míopes e egoístas" as críticas que apareceram nos jornais locais nos últimos dias de que a obra saiu cara demais ou lenta demais. E culpou a variação dos custos, provocada pela inflação, e as dificuldades em perfurar o terreno pelo aumento dos gastos.

Segundo ele, o museu da filarmônica de Hamburgo, na Alemanha, custou em média US$ 17 mil por m² e está em obras há dez anos, enquanto o argentino foi de US$ 2,6 mil/m².

"Queremos que nossa gente tenha o melhor, não há incompetência", defendeu-se De Vido, em coletiva nesta sexta (22). "Foi tempo recorde e gasto recorde para uma obra desta magnitude."

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