Iniciando uma visita oficial criticada por grupos de direitos humanos, o presidente americano, Barack Obama, conclamou nesta segunda-feira (27) os líderes da Etiópia a frear seus ataques à liberdade de imprensa e aos direitos políticos.
"Quando todas as vozes são ouvidas, quando as pessoas sabem que estão sendo incluídas no processo político, isso faz o país ter mais sucesso", disse Obama durante uma coletiva de imprensa junto ao primeiro-ministro etíope, Hailemariam Desalegn.
É a primeira vez que um presidente em exercício visita a Etiópia, país africano que tem registrado um grande ritmo de crescimento econômico (é previsto um crescimento de 10% do Produto Interno Bruto do país em 2015). A viagem é criticada devido ao histórico de repressão do governo local aos direitos humanos.
Sarah Margon, diretora da organização Human Rights Watch, disse que a vista de Obama mina os objetivos da Casa Branca sobre a boa governança no continente africano.
"De diversas maneiras, acredito que [a visita] é uma recompensa", disse Margon. "Neste momento, a Etiópia não merece isso."
O partido do premiê Desalegn, que tomou o poder há cerca de 25 anos, conquistou todas as cadeiras do Parlamento nas eleições de maio.
Além disso, a Etiópia é o segundo país que mais prende jornalistas na África, atrás da Eritreia, segundo o Comitê pela Proteção de Jornalistas. Pouco antes da chegada de Obama, o governo libertou diversos jornalistas e blogueiros que estavam presos desde abril de 2014 sob acusações de terrorismo. Muitos outros permanecem presos.
Na conferência de imprensa, o premiê etíope defendeu o compromisso de seu país com a democracia.
"Nosso compromisso com a democracia é real, não é superficial", disse Desalegn, admitindo que o país tem uma "democracia jovem" e que tem muito a avançar neste quesito. No entanto, o premiê afirmou ter "pequenas diferenças" com os EUA em relação ao ritmo dessas mudanças.
Questionado sobre a prisão de jornalistas, Desalegn disse que a Etiópia carece de "jornalismo ético" e de repórteres que não sejam ligados a organizações terroristas.
Obama afirmou que foi franco ao conversar com os líderes etíopes sobre a necessidade de ampliar as liberdades políticas no país e comparou sua visita à nação africana ao relacionamento dos EUA com a China, outro país economicamente potente, mas acusado de recorrentes violações aos direitos humanos.
"Ninguém questiona a necessidade de nos relacionarmos com países grandes com os quais possamos ter diferenças nessas questões [direitos humanos]", disse Obama. "Este também é o caso da África."
Os EUA veem na Etiópia um importante aliado no combate ao terrorismo islâmico na região, especialmente em relação à milícia Al Shabaab, que fez neste domingo (26) um ataque na vizinha Somália.
Além disso, Obama deve buscar cooperação com o governo da Etiópia no esforço para conter a guerra civil no Sudão do Sul.
Antes de visitar a Etiópia, Obama passou pelo Quênia, terra natal de seu pai.