O governo turco intensificou sua "guerra contra o terrorismo" quando faltam cinco dias para as eleições legislativas cruciais para seu futuro, multiplicando os ataques contra jihadistas em seu território e atacando os combatentes curdos na Síria.
Na madrugada desta terça-feira (27), a polícia antiterrorista conduziu uma grande operação na cidade conservadora de Konya (centro) e prendeu 30 suspeitos de integrar o grupo Estado Islâmico (EI), informou a imprensa.
Em outras duas ações, as forças de segurança prenderam 21 suspeitos em Istambul e 20 em Kocaeli (noroeste), indicou a agência de notícias Dogan.
Estas incursões ocorrem um dia depois de um tiroteio que resultou na morte de dois policiais e nove supostos membros do EI em Diyarbakir, a maior cidade no sudeste da Turquia de maioria curda, num dos mais graves incidentes ocorridos na Turquia desde que Ancara se juntou à coalizão antijihadista.
A polícia local informou nesta terça que seus dois agentes, cuja morte foi inicialmente atribuída à explosão de armadilhas, foram na verdade vítimas de um ataque suicida.
Os outros seis suspeitos mortos neste tiroteio também se preparavam para cometer ataques suicidas, segundo informou à AFP uma fonte da polícia local.
Um grande arsenal, que incluía dois Kalashnikov e 200 kg de nitrato de amônia usado na fabricação de bombas, foi apreendido pela polícia durante esta operação, de acordo com o gabinete do governador de Diyarbakir.
O exército também anunciou que prendeu 17 pessoas ligadas ao EI que tentavam atravessar ilegalmente a fronteira perto de Elbeyli (sul) para entrar em uma área na Síria controlada pelos jihadistas.
Há alguns dias, a polícia turca intensificou suas operações contra o grupo jihadista com a aproximação da votação de domingo, sob grande tensão após o atentando atribuído aos jihadistas e que fez 102 mortos em 10 de outubro em Ancara.
O presidente islâmico-conservador Recep Tayyip Erdogan e o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu fazem campanha baseada na segurança e unidade do país.
Ameaça curda
Na segunda-feira, o chefe de Estado prometeu continuar com a luta contra "todas as organizações terroristas" que ameaçam a Turquia.
E, nesta terça-feira, a polícia prendeu 13 militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) em Elazig (leste).
Há três meses, as autoridades retomaram suas ações contra os rebeldes curdos que, por sua vez, reinciaram a sua campanha de ataques direcionados contra as forças de segurança turcas, quebrando assim as negociações de paz lançadas em 2012.
Davutoglu também confirmou na segunda que o exército turco havia atacado em duas ocasiões as posições dos combatentes curdos na Síria.
"Nós advertimos que o PYD (Partido de União Democrática, curdos sírios) não deveria cruzar (um limite) para além do oeste do Eufrates", justificou.
O governo turco está preocupado com o avanço das forças curdas da Síria, próximas ao PKK, que conduz uma rebelião contra o governo de Ancara desde 1984.
A Turquia teme que os curdos se beneficiem da guerra civil em curso nesse país e proclamem uma região autônoma ao longo da sua fronteira sul. "Esta é uma ameaça para nós", reiterou Erdogan no sábado.
Apoiadas pelos Estados Unidos, as milícias curdas da Síria constituem a espinha dorsal das forças terrestres engajadas contra o EI na Síria. Após a vitória na batalha emblemática de Kobane em janeiro, os curdos reconquistaram em junho o controle de Tall Abyad.
"Antes das eleições, o governo turco quer mostrar que não baixará os braços. É principalmente uma demonstração de força", disse à AFP Serkan Demirtas, o chefe do jornal Hürriyet Daily News em Ancara.
Erdogan e seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) esperam reconquistar no doming a maioria absoluta perdida nas eleições parlamentares de junho passado, após treze anos de domínio político incontestável sobre o país.
Desde o atentado em Ancara, o governo tem sido muito criticado por parte da oposição, que o acusa de proteger os movimentos jihadistas que lutam contra o regime de Damasco, seu inimigo.
As pesquisas apontam entre 41 e 43% dos votos para o AKP no domingo, uma pontuação insuficiente para recuperar o controle absoluto do Parlamento. Este cenário iria abrir caminho para novas negociações para formar uma coalizão ou uma nova votação.