Sem liderança e com os países em crise, Mercosul deve permanecer parado no tempo

A quebra da hegemonia da esquerda, com a eleição do centro-direita argentino Maurício Macri, já representa outro ruído e um novo desafio nas negociações
MARCOS OLIVEIRA
Publicado em 06/12/2015 às 11:00
A quebra da hegemonia da esquerda, com a eleição do centro-direita argentino Maurício Macri, já representa outro ruído e um novo desafio nas negociações Foto: Foto: Lula Marques/ Agência PT


Se durante na década passada, com a pujança econômica, poucos avanços o Mercosul logrou, o que esperar da reunião no dia 21 deste mês no Paraguai e do futuro do bloco, com as principais nações enfrentando graves crises na política e na economia? A quebra da hegemonia da esquerda, com a eleição do centro-direita argentino Maurício Macri, já representa outro ruído e um novo desafio nas negociações em que todas as cartas indicam para um “jogo ruim” na mão de todos os jogadores.

Na mesa, as fichas não são boas: recessão econômica e instabilidade política paralisam os governos de Nicolás Maduro, na Venezuela, e de Dilma Rousseff, no Brasil. Com o novo agravante de o presidente venezuelano, provavelmente, perder a maioria legislativa para os oposicionistas na eleição de hoje e da sua homóloga brasileira enfrentar um processo de impeachment no Congresso. Do lado argentino, o problema, além da cambaleante economia – segundo consultorias independentes, conta com uma inflação anual de 35% – , está num novo governante que irá enfrentar forte oposição no Senado, de maioria kirchnerista. Fora isso, desde a eleição, Macri acusa o governo de Nicolás Maduro de antidemocrático e pretende pedir a suspensão da Venezuela, fazendo uso da cláusula democrática, já utilizada contra o Paraguai em 2011. Ação que não deve lograr êxito, visto que Uruguai e Brasil já se posicionaram contrários. Para a suspensão, é necessário o voto favorável de todos os países membros.

Mesmo trazendo um ponto de desavença, Macri já anunciou que se colocará ao lado do Brasil para a concretização, após 16 anos de lentas negociações, de um acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), mas nem isso, no atual momento, pode ser considerado um avanço. “A crise, no caso, não é só do Mercosul, mas de todos os projetos políticos de integração, e afeta também a União Europeia. O Mercosul não é prioridade para a UE e seu interesse é apenas abrir os nossos mercados, enquanto os deles permanecem fechados”, analisa a pesquisadora Cristina Pecequilo. Ela é autora dos livros A União Europeia - Os Desafios, A Crise e o Futuro da Integração e O Brasil e a América do Sul

A especialista ainda observa que o próximo encontro tende a ser mais um em que o Mercosul passará o recibo de um agrupamento de países que não compactuam de um projeto comum de integração. Isso se deve, para ela, sobretudo, ao descaso do governo de Dilma com o avanço nas negociações com os outros países e com o agravamento da crise interna. “Não acho que Macri ou qualquer outro líder, ou país, possa assumir esta posição. Sem o Brasil, a integração e a América do Sul sofrem e podem se tornar novamente suscetíveis a ingerências externas e soluções fáceis”, alerta.

O discurso de Cristina e de outros especialistas, como o ex-embaixador Rubens Ricupero, são lacônicos em uma comparação. Discordando ou não das soluções encontradas, o que se vê no caso da UE, por exemplo, é que em momentos de crise, como a imigratória ou a da Grécia, os líderes se reúnem e saem com ações tomadas. Enquanto que no Mercosul se debate há 24 anos em jogos de cartas marcadas pelo forte teor ideológico, sem avançar na integração econômica.

 

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