Senado questionará Itamaraty sobre 'telegrama do golpe'

Numa das mensagens, o diplomata Milton Rondó Filho pediu às representações no exterior que indicassem um funcionário para dialogar com movimentos sociais nos países em que atuam
Do Estadão Conteúdo
Publicado em 25/03/2016 às 11:26
Numa das mensagens, o diplomata Milton Rondó Filho pediu às representações no exterior que indicassem um funcionário para dialogar com movimentos sociais nos países em que atuam Foto: Foto: AFP


A Comissão de Relações Exteriores do Senado vai votar pedido de convocação do ministro Mauro Vieira, do Itamaraty, para explicar o envio para embaixadas, no dia 18, de telegramas com alertas de organizações não governamentais sobre um "golpe" contra a presidente Dilma Rousseff.

Numa das mensagens, o diplomata Milton Rondó Filho pediu às representações no exterior que indicassem um funcionário para dialogar com movimentos sociais nos países em que atuam. Uma hora e meia depois de uma segunda circular, o secretário-geral da pasta, Sérgio Danese, enviou telegrama desautorizando o subordinado.

Funcionários do Itamaraty informaram que Rondó Filho foi advertido por Danese, cujo cargo está imediatamente abaixo do de Vieira. O secretário-geral proibiu o diplomata de enviar novos telegramas sem sua autorização.

Rondó Filho afirmou ao superior que teve intenção apenas de dar conhecimento a movimentos sociais no exterior de avaliações de ONGs brasileiras sobre a situação política brasileira. O texto que causou polêmica, anexado num dos telegramas, foi produzido pela Associação de Organizações Não Governamentais (Abong) e "denunciava" um "processo reacionário que está em curso no País contra o Estado Democrático de Direito".

Na conversa com Danese, Rondó Filho observou que, no Itamaraty, responde pela chefia da Coordenação Humanitária e Combate à Fome e tem como função fazer o diálogo entre movimentos sociais. Esse órgão foi criado no embalo da política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de aproximação com países da África e da América Latina. O ministério descarta uma sindicância contra Rondó Filho. Por meio de assessores, a pasta informou que as posições de Rondó Filho foram estritamente pessoais e não ilustraram o posicionamento do ministério.

"Peça solta" 

Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) avaliou que Rondó Filho é uma "peça solta" que atuou contra os interesses do País. "O posicionamento dele certamente não é o do ministro e do Itamaraty", disse. "É um homem que está prestando um desserviço ao Brasil quando se precisa, mais do que nunca, da confiança no governo brasileiro no exterior. Ele espalhou rumores e mentiras, por isso tem de ser punido."

O Estado tentou conversar ontem com Rondó Filho por meio da assessoria do Itamaraty e de telefones em nome dele em Brasília e Jundiaí, mas não o localizou. Diplomata de carreira há mais de 20 anos, ele foi promovido pela primeira vez em 1994, ao cargo de segundo secretário, na primeira gestão do ministro Celso Amorim na pasta, no governo Itamar Franco. Atualmente, Rondó Filho exerce o cargo de ministro de segunda classe, posição na carreira inferior só à de embaixador.

Nas embaixadas, as mensagens enviadas do Itamaraty foram recebidas com estranheza e surpresa, de acordo com fontes ouvidas na Europa e Estados Unidos. Como os telegramas foram suspensos pouco depois de serem enviados, os funcionários destacam que não houve efeito prático algum das circulares.

Na Embaixada em Buenos Aires, o alerta chegou na sexta-feira à noite, razão pela qual os funcionários, que só tem acesso às mensagens no local de trabalho, só a viram após chegar a outra circular de suspensão. "É um homem que está prestando um desserviço ao Brasil. Ele espalhou rumores e mentiras, por isso tem de ser punido", diz Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

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