Os peruanos comparecem às urnas no domingo para eleger seu presidente, que, pela primeira vez, pode ser uma mulher, já que as pesquisas indicam como favorita Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, atualmente preso.
Dez candidatos estão na disputa, os sobreviventes de uma nova lei eleitoral implacável, cujas exigências deixaram pelo caminho nove aspirantes, dois dos quais tinham bom desempenho nas pesquisas.
Mas se há algo certo nas eleições no Peru é que nenhum candidato, por mais favorito que possa estar nas pesquisas, tema garantia de chegar à presidência.
Como prova o escritor e Prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, que nas eleições de 1990 era o grande favorito ao longo da campanha e se viu superado no segundo turno por um agrônomo desconhecido e de origem japonesa: Alberto Fujimori, que, graças ao apoio das camadas mais pobres e das zonas ruais, venceu com mais de 62% dos votos.
Dessa vez, liderando as preferências desde o início da campanha está Keiko Fujimori, do partido Força Popular (direita), com 35% dos votos, o que já garante o segundo turno em 5 de junho.
A candidata não nega o legado de seu pai, o que causa repulsa em parte da sociedade, que tenta assumir uma postura moderna, democrata e independente.
É difícil para Keiko se livrar da sombra populista e autoritária do pai, que, aos 77 anos, cumpre uma pena de 25 anos por corrupção e crimes contra a humanidade, mas que ainda tem força junto às camadas mais pobres.
Na disputa por chegar ao segundo turno, estão a jovem Verónika Mendoza, de 35 anos, da esquerdista Frente Ampla, e Pedro Pablo Kuczynski, do Peruanos por el Kambio (centro), que aparecem em segundo lugar com um empate técnico de 15%.
Mendoza, educada na França, é um rosto novo e representa uma proposta econômica alternativa, uma novidade em um país que, nos últimos anos, priorizou a economia de mercado.
Com uma taxa de crescimento médio anual de mais de 6% entre 2006 e 2013, o Peru se converteu em uma das economias mais fortes da região, um modelo elogiado por organismos financeiros internacionais.
Rico em recursos de mineração, se situa entre os cinco maiores produtores mundiais de ouro, prata, cobre, zinco, estanho e chumbo.
Com o fim da bonança das commodities, sua economia desacelerou e, em 2014, registrou um crescimento de apenas 2,4%, devido às quedas na mineração e pesca, outro setor-chave.
Mas um bom cenário para suas exportações não tradicionais, as receitas de novos projetos de mineração e uma boa temporada pesqueira permitiram superar as expectativas e anotar uma expansão de 3,26% em 2015, um cenário muito melhor que muitos de seus vizinhos.
Apesar de sua trajetória de crescimento, o Peru ainda tem uma tarefa pendente, já que 22,7% de sua população vive na pobreza, segundo cifras de 2014, apesar de uma melhoria na situação de 58,7% em comparação há dez anos.
O Peru é um país altamente empreendedor. As pequenas, micros e médias empresas empregam 80% da força de trabalho.
Ainda apresenta desigualdades entre as divisões sociais, étnicas e geográficas. A população rural nos Andes é particularmente marginada.
O Peru viveu, entre 1980 e 2000, o terror da guerrilha maoista do Sendero Luminoso (SL) e guevarista do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), que empreenderam uma guerra contra o Estado que deixou 70.000 entre mortos e desaparecidos.
Alberto Fujimori, filho de imigrantes japoneses, governou o país entre 1990 e 2000, dizimou as guerrilhas, apesar de seu governo estar marcado por má gestão, compra de políticos e meios de comunicação.
No final, teve de renunciar em meio a um escândalo de corrupção e se converteu no primeiro presidente peruano condenado por corrupção e crimes contra a humanidade, pela autorização de esquadrões da morte.