As autoridades eleitorais da Venezuela anunciarão nesta segunda-feira se a oposição pode avançar com o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro, em meio a uma crescente tensão política e descontentamento popular.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) convocou para o final da tarde o anúncio para confirmar ou não se a Mesa da Unidade Democrática (MUD) reuniu as 200.000 assinaturas necessárias para validar o referendo, depois de, na semana passada, causar irritação por postergar a decisão.
A coalizão opositora exige rapidez. Seu objetivo é realizar o referendo ainda este ano, por isso quer começar o quanto antes a segunda etapa do processo: recolher as quatro milhões de assinaturas (20% dos eleitores) necessárias para que se convoque a consulta.
"A revogação é para que se acabe as filas, para que haja comida e medicamentos, para que o dinheiro chegue às pessoas, para que haja segurança. Com Maduro, não vamos resolver a crise, por isso temos de revogá-lo", afirma o ex-candidato presidencial opositor Henrique Capriles.
A MUD acusa o CNE de ser aliado do governo e de atrasar o processo de propósito para evitar que a consulta seja feita antes de 10 de janeiro de 2017.
Esse limite é fundamental: se o referendo acontecer este ano e se Maduro perder, haverá eleições; mas se ele for removido depois desta data, os dois anos de mandato que ficarão faltando serão completados por seu vice-presidente.
O secretário americano de Estado, John Kerry, pediu nesta segunda-feira às autoridades eleitorais venezuelanas que não atrasem o processo de referendo contra Maduro.
"A Constituição venezuelana garante o direito dos venezuelanos a que sua voz seja escutada através do processo de referendo", disse Kerry em uma coletiva junto à sua colega colombiana, María Ángela Holguín.
"Pedimos às autoridades venezuelanas que permitam que este processo avance de uma maneira oportuna e justa, e não joguem com atrasos que representem uma vantagem de uma parte em relação a outra, em vez de uma vantagem da democracia".
Kerry disse estar "profundamente preocupado pela deterioração econômica e política" na Venezuela, onde cresce o descontentamento popular contra Maduro em meio a uma crise de escassez de alimentos e medicamentos e uma inflação que foi de 180,9% em 2015.
"As necessidades básicas do povo venezuelano não estão sendo satisfeitas pelo governo e a situação se torna pior e pior em muitos sentidos".
Segundo Kerry, a situação na Venezuela "é o resultado direto da má administração do governo e de sua falta de vontade de trabalhar com a oposição".