Os advogados de Salah Abdeslam, suspeito-chave dos atentados terroristas de 13 de novembro de 2015 em Paris, desistiram de defender seu cliente, anunciaram em uma entrevista divulgada nesta quarta-feira pela televisão francesa BFM.
"Nós dois decidimos renunciar à defesa" de Abdeslam. "Temos a convicção de que ele não se manifestará e alegará seu direito de permanecer calado", explicou o advogado francês, Frank Berton, ao lado do seu colega belga, Sven Mary.
"Em uma posição como a nossa, o que querem que façamos? Afirmamos desde o início, avisamos, que se nosso cliente permanecesse calado abandonaríamos sua defesa", acrescentou Berton.
"Quando você tem a sensação de estar ali só para fazer visitas na prisão, neste momento é necessário tomar uma decisão", acrescentou Mary.
Segundo Berton, Abdeslam "escreveu ao juiz de instrução para informá-lo de que não quer continuar sendo representado".
"Durante sua primeira audiência na França, disse inclusive diante do juiz: iria se explicar mais adiante. Nós o vimos uma dezena de vezes, falamos frequentemente por telefone. Agora se nega a responder às perguntas do magistrado antiterrorista. Acredito que não haverá nenhum outro advogado. Já não tem vontade. Salah Abdeslam abandona. É como um suicídio, temo isso", disse Berton em uma entrevista à revista Le Nouvel Observateur.
Acusado de assassinatos terroristas e suspeito-chave dos atentados que deixaram 130 mortos em Paris, Salah Abdeslam está detido em regime de isolamento desde 27 de abril passado, em uma prisão ao sul de Paris, e submetido a uma vigilância com câmeras de vídeo 24 horas por dia.
Salah Abdeslam recorreu ao Conselho de Estado francês para tentar suspender este regime de prisão inédito na França, mas a máxima jurisdição administrativa rejeitou o recurso no final de julho, diante do "caráter excepcional dos fatos terroristas" dos quais é acusado, que exigem "todas as precauções".
Este homem, o único membro vivo dos comandos de 13 de novembro, se nega a responder às perguntas do juiz antiterrorista encarregado de investigar os atentados de Paris e Saint-Denis, na periferia norte da capital. Exerce seu direito de permanecer em silêncio durante o interrogatório.
O papel exato de Abdeslam na noite de 13 de novembro não está completamente elucidado.
Após dirigir o carro dos três suicidas que detonaram seus explosivos em Saint-Denis, onde era disputada uma partida de futebol entre França e Alemanha no Stade de France, aparentemente perambulou por Paris durante toda a noite.
No dia seguinte, viajou com dois amigos que se dirigiram da Bélgica para buscá-lo.