Um cessar-fogo de 72 horas, promovido pelas Nações Unidas, entrou em vigor às 23H59 local (18H59 Brasília) desta quarta-feira no Iêmen, um país devastado pela guerra há mais de 18 meses.
A trégua, que poderá ser prorrogada, foi anunciada na segunda-feira pelo enviado da ONU Ismail Uld Sheikh Ahmed e é a sexta tentativa para acabar com o conflito entre os rebeldes xiitas huthis e as forças governamentais.
Pouco antes do início da trégua, a coalizão árabe e os rebeldes anunciaram que suspenderiam as hostilidades.
Mas durante o dia, os combates e ataques aéreos não cessaram no país, e dezenas de pessoas morreram, principalmente no norte, na zona de fronteira com a Arábia Saudita.
Um comunicado das forças governamentais informou a morte de 30 rebeldes e de cinco combatentes leais ao governo.
Anunciada na segunda-feira pela ONU, esta trégua começa em um momento de estagnação do conflito, que deixou 6.900 mortos, 35.000 feridos, três milhões de deslocados e devastou a economia do país, considerado o mais pobre da península arábica, inclusive antes do início da guerra.
Desde março de 2015, o governo iemenita, reconhecido pela comunidade internacional e apoiado pela coalizão militar árabe sob comando saudita, enfrenta rebeldes xiitas huthis, acusados de vínculos com o Irã, que controlam a capital Sanaa e amplas regiões do norte, oeste e centro do país.
A sexta tentativa de cessar-fogo, mediada pela ONU, acontece após um grande erro dos aviões da coalizão liderada por Riad, que matou 140 pessoas e deixou 525 feridos em 8 de outubro em Sanaa.
Além disso, nas últimas semanas foram registrados disparos de mísseis contra navios da Marinha dos Estados Unidos no Mar Vermelho e uma resposta americana contra baterias de radares situadas nas zonas controladas pelos rebeldes.
Diante de tal cenário, a comunidade internacional, com Washington à frente, aumentou a pressão sobre os beligerantes: o governo do presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, apoiado pela coalizão de países árabe-sunitas, e os rebeldes huthis pró-Irã, aliados das forças do ex-chefe de Estado Ali Abdullah Saleh.
O secretário de Estado americano, John Kerry, pediu o respeito ao cessar-fogo, assim como sua renovação incondicional.
"Pedimos a todas as partes que tomem as medidas necessárias para a implementação desta trégua, pedimos que façam com que ela dure e encorajamos fortemente sua renovação incondicional", declarou.
O governo de Hadi, no entanto, anunciou suas condições: a implementação de um comitê de observação do cessar-fogo, o fim do cerco a Taiz, grande cidade do sudoeste sitiada por rebeldes, e a distribuição sem restrições de ajuda humanitária.
Os rebeldes afirmam estar preparados para um "cessar-fogo duradouro, global e sem condições, que garantirá o fim da agressão e a suspensão do bloqueio imposto pela coalizão".
As possibilidades de uma trégua parecem reais, destaca o analista Mustafa Alani, que cita um "ambiente completamente diferente" ao do último cessar-fogo que fracassou em abril.
"As grandes potências estão envolvidas desta vez, Estados Unidos e Grã-Bretanha, que exercem pressão sobre as partes", disse.
"Ao mesmo tempo, (os beligerantes) estão esgotados pelo custo humano e financeiro do conflito. As partes pensam que não podem vencer militarmente", completa o analista para questões de segurança no Centro de Pesquisas do Golfo, que tem sede em Genebra.
Kerry ressaltou que o cessar-fogo é essencial para retomada dos esforços pela paz.
"Continuaremos trabalhando com todas as partes para chegar a uma solução negociada", declarou o responsável americano.
Para Alani, existe uma possibilidade de compromisso com base na resolução 2216 (abril de 2015) do Conselho de Segurança da ONU. O texto, aceito pelo presidente Hadi, obriga os rebeldes a abandonar as zonas conquistadas, a devolver as armas e a começar as discussões políticas. Os huthis, no entanto, insistem em um diálogo político sem condições.