O candidato republicano, Donald Trump, evitou se comprometer no debate desta quarta-feira (19), em Las Vegas, sobre se aceitará o resultado das eleições presidenciais de 8 de novembro nos Estados Unidos, alegando que estudará a questão quando chegar a hora.
"Verei isso no momento oportuno, mas o que vi até agora é muito ruim", desconversou Trump, que vem insistindo em seus discursos dos últimos dias em que as eleições estão sendo "manipuladas" para garantir a vitória de sua oponente, a democrata Hillary Clinton.
Na visão de Trump, a imprensa é um dos problemas mais graves: "a imprensa é tão desonesta e tão corrupta, e envenenaram a mente dos eleitores. Felizmente, acho que os eleitores estão vendo além".
Uma indignada Hillary Clinton disse se sentir "horrorizada" de ter diante dela um adversário em uma campanha eleitoral que não acredita no sistema eleitoral.
"Vamos ser claros sobre o que ele está dizendo e o que isso significa. Ele está denegrindo e levando nossa democracia para baixo. Eu me sinto horrorizada que alguém que seja candidato por um dos dois maiores partidos do país adote uma posição como essa", atacou Hillary.
"Essa não é a forma como nossa democracia funciona", declarou, apontando que os candidatos "aceitam os resultados, mesmo quando não nos agrada. É o que devemos esperar de qualquer um que esteja nesse debate".
Diante da insistência do moderador do debate, Chris Wallace, sobre se aceitará os resultados, em caso de derrota, Trump voltou a responder de forma lacônica: "manterei você em suspense, ok?".
"Isso é assustador", insistiu Hillary.
Com as declarações, Trump se coloca em contradição com seu próprio candidato a vice, Mike Pence, que declarou ao canal CNN que o resultado seria aceito "com certeza". Sua filha, Ivanka, também já afirmou que o pai respeitará a votação "de qualquer forma".
"Acredito que vai alienar muitos eleitores", disse o diretor da campanha de Clinton, Robby Mook.
A campanha de Trump tentou apagar o fogo: "O que ele está dizendo é que não vai aceitar simplesmente uma eleição até que seja certificada e verificada", disse a porta-voz Sarah Huckabee.
Atrás nas pesquisas, com várias acusações por sua conduta inapropriada com as mulheres, Trump, 70 anos, teve seu melhor desempenho nos debates, mas isto não foi suficiente para convencer os eleitores indecisos, a apenas três semanas da votação.
Durante uma hora e meia em Las Vegas, Trump e Clinton trocaram acusações: a democrata chamou o rival de "marionete" do presidente russo Vladimir Putin e o republicano afirmou que a ex-primeira-dama está por trás das mulheres que o acusam de conduta sexual inapropriada.
Para Clinton, Trump é o "mais perigoso" candidato à Casa Branca na história moderna. "É uma mulher má", disse o republicano.
A questão do aborto e as denúncias de abuso sexual contra Trump também agitaram o debate, quando logo no início os dois candidatos discutiram sobre a Suprema Corte.
Hillary e Trump expunham suas diferenças em relação aos juízes a serem escolhidos pelo futuro presidente para o Supremo quando o republicano buscou tranquilizar a base conservadora de seu partido, ressaltando que indicará juízes pró-vida (contrários ao aborto).
A democrata disse que vai "defender o direito das mulheres de fazer suas próprias decisões de cuidado de saúde".
"Eu não acho que o governo dos Estados Unidos deveria estar fazendo essa decisão", insistiu ela, acrescentando que "viemos tão longe para ter de recuar agora".
"Essa eleição é sobre o tipo de país que seremos", afirmou Clinton, acrescentando que os direitos da comunidade gay e das mulheres não devem ser reduzidos.
"Se vocês forem com o que a Hillary está dizendo, você pode pegar o bebê e tirar o bebê do útero da mãe pouco antes do nascimento do bebê", alertou Trump.
"Usar esse tipo de retórica do medo é apenas terrivelmente infeliz", respondeu Hillary. "Você deveria se encontrar com as mulheres com as quais eu me encontrei".
"Essa é uma das piores escolhas possíveis que qualquer mulher e sua família têm de fazer", insistiu Trump, referindo-se ao aborto.
Em outro momento do debate, o republicano acusou Hillary e sua equipe de criar e promover as denúncias sobre os episódios de assédio sexual de Trump às mulheres.
"Acho que ela incitou essas pessoas a dar um passo adiante", disse Trump, apontando um dedo para Hillary, ao acusá-la de organizar "uma campanha suja" baseada em denúncias que são "mentiras".
"Não conheço essas pessoas, mas tenho uma ideia de onde vêm (essas denúncias)", afirmou, referindo-se às alegadas vítimas.
Trump insistiu ainda em que há evidências de que grupos ligados à democrata contrataram provocadores para atrapalharem e interromperem seus comícios de campanha.
"Eles contratam gente. Pagam 1.500 dólares para eles, e está gravado como dizem a eles para serem violentos, provocarem brigas", completou.
O plano de Trump de implementar uma deportação em massa de milhões de imigrantes em situação irregular "dividirá o país" - atacou Hillary, retornando à questão que marcou o início da campanha de Trump.
Segundo Hillary, se essa iniciativa for aplicada, o país terá de sair em busca de imigrantes "escola por escola, casa por casa, loja por loja".
"Acho que é uma ideia que vai dividir o país", frisou.
"Não quero separar famílias de seus filhos. E não quero ver a força dedicada a deportar, da que Trump fala, em ação em nosso país", declarou Hillary.
"Estamos recebendo as drogas, e eles, o dinheiro. Precisamos de fronteiras mais fortes", justificou Trump, ao defender seus planos na área.
De acordo com Trump, existem "hombres maus" no país que deveriam ser devolvidos para seus países de origem.
O republicano lembrou que o próprio presidente Barack Obama manteve um volume constante de deportações diárias.
"O que eu quero dizer é que o presidente Obama já deportou milhões e milhões de pessoas. Ela (Hillary) não quer mencionar isso, mas é o que acontece", completou Trump.
Adepta da tentativa do presidente Barack Obama conseguir aprovar uma reforma migratória no Congresso, Hillary defendeu a regularização dos imigrantes em situação ilegal.
"Assim, os empregadores não podem explorá-los e reduzir os salários dos americanos. E Donald sabe muito disso", alfinetou.
Trump é uma "marionete" do presidente russo, Vladimir Putin, afirmou a democrata em outro trecho do debate, enquanto Trump rebatia declarando que terá melhores relações com Moscou.
A ex-secretária de Estado indicou que "17 agências americanas de Inteligência" responsabilizaram a Rússia por "hackear" e-mails americanos e repassar essa informação para a plataforma WikiLeaks.
"Eles hackearam sites americanos, contas americanas de e-mail de pessoas privadas, de instituições", listou.
Ao ser desafiado por Hillary a condenar a iniciativa russa, Trump afirmou que, embora condenasse as invasões de e-mails, "ela não tem ideia se foi Rússia, ou China, ou alguém mais".
Trump também minimizou a importância dos relatórios de Inteligência. "Nosso país não tem ideia".
"Nunca vi Putin. Não é meu amigo", desconversou Trump. Ainda assim, "se Rússia e Estados Unidos se derem bem, isso seria bom".
Este foi o último debate antes das eleições de 8 de novembro. As últimas pesquisas colocam a ex-secretária de Estado com uma vantagem de pelo menos 6,5 pontos percentuais em relação ao magnata do setor imobiliário.