O FBI (a Polícia Federal americana) aplicou um duro golpe, nesta sexta-feira (28), às aspirações presidenciais da democrata Hillary Clinton, com a reabertura das investigações sobre o uso de um servidor privado de e-mails quando era secretária de Estado.
Em uma carta à Comissão de Assuntos Judiciários da Câmara de Representantes, o diretor do FBI, James Comey, informou que seus peritos "tomaram conhecimento da existência de e-mails que parecem ser pertinentes à nossa investigação".
Ao saber dessas novas mensagens, Comey acrescentou: "manifestei meu acordo para que o FBI tome as medidas investigativas adequadas" para a análise por parte dos peritos.
Hillary não reagiu imediatamente ao caso, durante o discurso desta sexta em um comício na cidade de Cedar Rapids, Iowa, estado-chave nas eleições de 8 de novembro.
Em nota oficial, o coordenador da campanha de Hillary, John Podesta, exigiu que Comey divulgue "detalhes completos" sobre o material a ser analisado pelo FBI e considerou "extraordinário" que isso aconteça a 11 dias das eleições.
"É extraordinário ver isto a 11 dias das eleições presidenciais. O diretor do FBI deve aos americanos divulgar imediatamente detalhes completos do que está examinando agora", afirmou John Podesta.
"A carta do diretor Comey indica que e-mails surgiram em um caso sem relação [com a investigação anterior], mas não temos ideia do que são estes e-mails e o próprio diretor observa que poderiam não ser importantes", disse Podesta.
Ainda segundo Podesta, Comey "deveria fornecer imediatamente aos americanos mais informação do que aquela que consta em sua carta" aos congressistas.
Podesta também questionou que o FBI tenha "reaberto" a investigação realizada por meses no início deste ano.
O FBI fez uma exaustiva investigação sobre o uso, por parte de Hillary Clinton, de um servidor para enviar e-mails quando era secretária de Estado. O objetivo era determinar se informações sigilosas circularam por esse servidor.
No final da investigação, Comey anunciou, em julho deste ano, que o FBI não apresentaria acusações formais contra a democrata, mas avaliou que a ex-secretária de Estado e seus assessores foram "extremamente descuidados" no tratamento de informação reservada.
Em sua carta, de 26 de outubro, Comey disse que "não podia prever quanto tempo levará para completar esse trabalho adicional", sugerindo claramente que as conclusões estarão disponíveis apenas depois das eleições presidenciais de 8 de novembro.
Nesta sexta, o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Stoner, disse que a pasta não tem informações sobre a origem, ou sobre o conteúdo, dos novos e-mails mencionados por Comey.
O candidato a vice na chapa de Hillary, senador Tim Kaine, evitou se referir ao assunto, depois de discursar em um comício em Tallahasse, na Flórida.
"Preciso ler algo mais sobre isso", desconversou Kaine, ao ser questionado pelos jornalistas.
A Flórida é considerada um estado fundamental para conquistar a Casa Branca. A maioria das pesquisas atribui uma leve vantagem a Hillary, embora pelo menos uma pesquisa coloque o republicano Donald Trump na dianteira.
A reação de Trump não demorou.
Pouco depois da divulgação da carta de Comey, o candidato republicano abriu um ato de campanha em New Hampshire anunciando diante de uma multidão a continuidade da investigação sobre os e-mails de sua oponente democrata.
Depois de acusar o FBI de inepto e corrupto, por semanas, Trump disse que, com as novas investigações, o órgão poderá "corrigir um erro horrível" por parte de Hillary.
"A corrupção de Hillary é de uma escala como nunca vimos antes", atacou Trump, ao que multidão respondeu aos gritos de "Hillary na prisão!".
"Não podemos permitir que Hillary leve seu esquema criminoso até o Salão Oval da Casa Branca", disse Trump a seus seguidores, que vaiaram a ex-secretária.
O presidente da Câmara de Representantes, o republicano Paul Ryan, lembrou que "a Hillary foram confiados alguns dos mais importantes segredos da nossa nação, e ela traiu essa confiança, manejando com descuido informação classificada".
O anúncio desta sexta foi o último capítulo de um espetacular escândalo que persegue Hillary Clinton desde março de 2015, quando o jornal The New York Times revelou que, em sua gestão no Departamento de Estado, ela usou um servidor de e-mails instalado no sótão de sua casa.
Os assessores mais próximos de Hillary, que abandonou seu cargo à frente da diplomacia americana em janeiro de 2013, mantiveram o sigilo sobre essa prática até ser tornada pública pelo jornal nova-iorquino.