As duras críticas do presidente eleito dos Estados Unidos contra a União Europeia e a Otan foram assunto nesta segunda-feira (16) em uma reunião de chanceleres europeus em Bruxelas, que apelaram à união dos 28 e a esperar que Donald Trump assuma seu cargo na sexta-feira (20).
"A melhor resposta à entrevista do presidente americano é a unidade dos europeus", disse o ministro francês, Jean-Marc Ayrault, ao chegar a esta reunião consagrada inicialmente à situação na Síria e ao Oriente Médio em geral.
As declarações de Trump, que falou aos jornais The Times e Bild que "outros países deixarão" a UE após o Reino Unido, geraram "agitação", nas palavras do ministro alemão Frank-Walter Steinmeier, num momento em que o bloco se prepara para uma negociação possivelmente muito dura com Londres.
O próximo presidente americano previu que o Brexit será "um sucesso" e anunciou que se reunirá rapidamente com a primeira-ministra britânica, Theresa May, que, segundo a imprensa britânica, defenderá na terça-feira um divórcio duro com a UE em um esperado discurso.
O impacto na Europa das palavras de Trump também passou por um apelo da Alemanha a ter confiança e não cair "em uma profunda depressão", enquanto outros responsáveis, como o chanceler espanhol Alfondo Dastis ou o belga Didier Reynders, optaram por esperar para ver o que Trump fará quando entrar na Casa Branca.
A inquietação dos europeus, que nos últimos anos sofreram uma série de atentados extremistas em seu solo e a maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial, é ainda maior, já que a Otan é outro dos alvos das críticas do magnata.
Donald Trump, que já questionou durante a campanha eleitoral o apoio americano aos seus sócios transatlânticos, classificou de "obsoleta" a Aliança Atlântica, da qual formam parte 22 dos 28 países do bloco europeu, criticados por ele por não pagar "o que deveriam".
Apenas cinco dos 28 países da Otan (Estados Unidos, Reino Unido, Estônia, Grécia e Polônia) destinam ao menos 2% de seu PIB aos gastos militares, como pede a Aliança Atlântica.
Embora o chefe da diplomacia alemã tenha afirmado que as declarações de Trump foram acolhidas "com preocupação", após se reunir com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, este último reiterou sua confiança que Washington respeitará seus compromissos na organização.
Stoltenberg "acredita absolutamente que a nova administração americana continuará comprometida com a Otan", declarou sua porta-voz, Oana Lugescu, ressaltando a vontade do secretário-geral de trabalhar "com o presidente eleito" e "sua equipe de segurança".
As linhas de política externa esboçadas por Trump também apontavam contra dois pontos da diplomacia europeia: as sanções contra a Rússia do presidente Vladimir Putin e o acordo com Teerã sobre seu programa nuclear.
O próximo presidente americano, que mantém uma aparente proximidade com Putin, se referiu à possibilidade de um acordo de redução de armas nucleares em troca do levantamento das sanções impostas à Rússia por seu papel no conflito na Ucrânia.
Em relação ao acordo com o Irã, Trump não informou até agora o que pensa em fazer, embora durante a campanha eleitoral tenha prometido rompê-lo. O futuro secretário de Estado americano, Rex Tillerson, defendeu uma "revisão completa" do pacto.
"A UE continuará trabalhando pelo respeito e pela implementação deste acordo extremamente importante, sobretudo para nossa segurança", respondeu a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, destacando avanços em sua aplicação, iniciada há um ano.
Em virtude do acordo fechado entre Teerã e as grandes potências do 5+1 (EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha), a comunidade internacional se comprometia a levantar as sanções contra o Irã em troca de um controle de suas atividades nucleares.
"Seria uma pena que os Estados Unidos, como a maior democracia do mundo (...) agissem de maneira destrutiva", afirmou o chanceler de Luxemburgo, Jean Asselborn, advertindo que, "se destruir a política externa, as consequências serão de grande alcance".