O candidato da direita às presidenciais francesas, François Fillon, pediu perdão a seus seguidores, neste domingo (5), pelo escândalo de empregos fantasmas que ameaça enterrar sua campanha, mas voltou a defender sua inocência.
Em discurso diante de milhares de pessoas na Place du Trocadéro-et-du-11-Novembre, perto da Torre Eiffel, Fillon admitiu - mais uma vez - ter cometido "um erro" ao contratar sua mulher, Penelope, como assistente parlamentar.
Fillon disse, porém, estar convencido de que será inocentado.
"O problema é que, aí, será tarde demais. As eleições terão sido manipuladas", declarou o candidato, de 63 anos.
"Fiz um exame de consciência (...) Agora cabe a vocês fazer o mesmo", declarou.
No comício, Fillon lamentou ter sido "atacado por todo mundo" nas últimas semanas, mas reconheceu sua responsabilidade nos "enormes obstáculos" que marcaram sua campanha.
"Eu lhes devo desculpas, incluindo a de ter de defender minha honra e a da minha mulher, enquanto que, tanto para vocês quanto para mim, o importante é defender nosso país", acrescentou.
O perigo para os conservadores é perder eleições dadas quase como certas até a publicação em meados de janeiro, por parte do semanário Le Canard Enchaîné, do caso dos empregos fantasmas envolvendo a família Fillon.
A marcha deste domingo foi convocada pelo próprio candidato em meio à sangria de apoios, como uma tentativa de demonstração de força ante seu próprio partido. François Fillon vem sendo pressionado pelos caciques de seu partido a abandonar a corrida eleitoral.
Para muitos analistas, o ato de hoje pode ser um de seus últimos cartuchos para salvar sua candidatura.
Em entrevista ao telejornal do canal público France 2, após o comício, Fillon declarou que "ninguém hoje pode me impedir de ser candidato".
"Minha candidatura continua a ser apoiada pela maioria dos eleitores de direita e de centro, eu acredito, e acho que demonstrei isso esta tarde", afirmou.
O fato é que as pesquisas são devastadoras e mostram que o escândalo manchou sua imagem de "homem honrado". As sondagens mais recentes apontam que ele não conseguirá passar pelo primeiro turno, em 23 de abril, estando, portanto, ausente no segundo, em 7 de maio.
Protagonista do escândalo que abala a carreira de seu marido, Penelope falou pela primeira vez em público, em uma entrevista publicada no Journal du Dimanche, na qual aconselhou Fillon a lutar até o fim.
Penelope ressaltou que seu marido "é o único candidato com experiência (...), projeto e determinação necessários para dirigir a França".
Na entrevista, ela negou o caráter "fantasma" do emprego, alegando que realizou "tarefas muito variadas" para seu marido quando este era deputado.
Na França, os deputados têm direito a contratar parentes, desde que a vaga seja real, e eles realmente trabalhem.
Esta semana, cerca de 250 dirigentes e políticos de seu partido retiraram o apoio a Fillon.
O candidato chegou a declarar que desistira da corrida eleitoral se fosse indiciado pela Justiça. Depois recuou, afirmando que se submeteria apenas ao "sufrágio universal", o que desencadeou a série de abandonos de apoio.
Em diferentes ocasiões, François Fillon deu a entender que as acusações contra ele teriam motivação política, sugerindo, inclusive, que o governo socialista de François Hollande poderia estar por trás da investigação.
O cerco a Fillon se fechou ainda mais esta semana, depois da batida policial em sua residência na capital francesa na quinta-feira (2) e em sua mansão no departamento da Sarthe, na sexta (3).
Nesse contexto, são cada vez maiores as pressões para que Fillon renuncie e seja substituído por Alain Juppé, ex-primeiro-ministro que ficou em segundo lugar nas primárias da direita e é considerado politicamente mais moderado do que o atual candidato.
Prefeito de Bordeaux, Juppé colocou como condição para aceitar substituir Fillon que o candidato renuncie voluntariamente e que ele tenha pleno apoio de seu partido, o conservador Les Républicains, nesse processo.