O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que as Forças Armadas estarão mobilizadas nas ruas de todo o país a partir desta segunda-feira, dois dias antes de uma grande manifestação opositora, para defender sua honra e prestar homenagem à milícia civil.
"Desde os primeiros raios da alvorada, desde o primeiro cantar de galo, a Força Armada Nacional Bolivariana estará nas ruas sob o canto e o trote dizendo 'viva a união cívico-militar', 'viva a revolução bolivariana'", afirmou o presidente.
A rede de televisão governamental VTV mostrou soldados marchando no passeio militar de Caracas junto ao ministro Vladimir Padrino, mas por enquanto não são observados militares patrulhando as ruas.
Maduro indicou no domingo à noite que uma "grande marcha de milicianos" será realizada em Caracas e em outras cidades do país como tributo a este corpo criado por seu antecessor Hugo Chávez.
"Começamos a semana com muito vigor, com muito espírito combativo, diante do dia 19 de abril. Vamos reivindicar hoje (segunda-feira) em homenagem à Milícia Bolivariana, que é um ícone da união cívico-militar. Um chamado à paz, ao entendimento, não queremos confrontação", declarou o ministro à rede de televisão estatal citado pelos meios de comunicação.
Os opositores de Maduro convocaram para quarta-feira, quando será celebrado o primeiro grito independentista venezuelano, "a mãe das marchas" em Caracas para exigir respeito à autonomia do Parlamento - de maioria opositora - e eleições.
O chavismo também marchará no mesmo dia pela capital.
Desde 1º de abril se sucederam manifestações contra Maduro, que deixaram cinco mortos e centenas de feridos e detidos em meio aos confrontos com as autoridades.
Os protestos eclodiram após sentenças com as quais o Supremo Tribunal de Justiça assumiu as funções do Parlamento, de ampla maioria opositora, e retirou a imunidade dos deputados.
Em meio a uma forte rejeição internacional, as decisões foram parcialmente anuladas.
O presidente sustenta que estes protestos buscam desestabilizar seu governo e promover um golpe de Estado.
Nesta segunda-feira "começamos um dia em defesa da honra, da união e do compromisso revolucionário da Força Armada Nacional Bolivariana (...) um dia de defesa da moral, do compromisso da união cívico-militar, do compromisso com a pátria, em repúdio à traição à pátria, aos traidores da pátria", indicou Maduro.
Maduro revelou no domingo um vídeo da suposta delação de um ativista opositor preso, que acusa deputados de seu partido de pagar para gerar violência nos protestos contra o governo.
A gravação mostra Alejandro Sánchez, que foi preso na sexta-feira junto com seu irmão gêmeo, José, em meio a manifestações que há duas semanas exigem respeito à autonomia do Parlamento - de maioria opositora - e eleições.
Alejandro Sánchez afirma que os deputados do partido Primero Justicia, Tomás Guanipa, José Guerra e Marialbert Barrios, junto com o chefe da organização em Caracas, Carmelo Zambrano, entregaram caixas com dinheiro a jovens com a instrução de atear fogo em Caracas durante os protestos.
Maduro afirmou que durante as manifestações - que já deixaram cinco mortos e 117 detidos - foram registrados atos de vandalismo contra instituições públicas, enquanto 40 lojas foram saqueadas no estado de Miranda, vizinho a Caracas.
"Não vou hesitar em levar à prisão quem tiver que levar, não importa como se chame, esteja no cargo em que estiver (...). Não acreditem que vocês têm uma imunidade intocável, não, ninguém. Imunidade não significa impunidade", advertiu o presidente em uma reunião ministerial transmitida pela televisão.
Horas antes, deputados do Primeiro Justiça disseram ter denunciado ante as Nações Unidas "torturas" contra os dois detidos.
A Venezuela tem 165.000 efetivos militares e 25.000 na reserva, além de milhares de integrantes desta milícia civil.
As Forças Armadas têm um amplo poder no governo, com um militar ativo e dez reformados em 11 dos 32 ministérios, incluindo os de Defesa, Agricultura e Alimentação.