O presidente americano, Donald Trump, transformou a China em grande adversária durante sua campanha eleitoral, mas quatro meses depois de chegar à Casa Branca, sua administração anunciou nesta sexta-feira (12) um acordo comercial com Pequim, na esperança de reduzir seu grande déficit comercial.
O presidente americano, que ameaçou com proibitivas tarifas alfandegárias uma China acusada de práticas comerciais desleais e de manipulação de divisas, moderou claramente seu discurso desde que assumiu o cargo.
Trump recebeu o presidente chinês, Xi Jinping, no início de abril em sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida, e defende agora uma aproximação com o gigante asiático, buscando ajuda para tratar o delicado tema da Coreia do Norte.
Após a reunião com Xi, Trump falou em "progressos espetaculares" conquistados na relação sino-americana e prometeu um "plano de ação" de 100 dias para reforçar a cooperação entre os dois países.
O acordo anunciado nesta sexta-feira (12) constitui um dos "primeiros resultados" desse plano, segundo um comunicado conjunto.
Ambos os países anunciaram este acordo comercial que garante as exportações de carne e gás dos Estados Unidos para a China, que vai aceitar alguns serviços financeiros americanos.
O acordo sino-americano é consecutivo ao compromisso de Trump de reduzir enorme déficit comercial dos Estados Unidos com a China, que em 2016 foi de quase 350 bilhões de dólares.
"O fato de que possamos realizar semelhantes progressos em tão pouco tempo mostra que podemos aspirar a uma cooperação ainda maior em benefício mútuo", afirmou Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores.
Em Washington, o tom era triunfal: "É um resultado excepcional. É mais do que tudo o que se fez na história das relações comerciais entre China e Estados Unidos", exclamou o secretário de Comércio, Wilbur Ross, citado pela agência Bloomberg.
Segundo o acordo, a China autorizará as importações de carne bovina após um embargo de 13 anos e as empresas chinesas poderão comprar gás natural nos Estados Unidos.
O texto do acordo estabelece que a China autorizará antes do fim de julho as importações de carne bovina americana.
A China suspendeu totalmente as importações de carne bovina procedente dos Estados Unidos em 2003 após a descoberta do primeiro caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como "mal da vaca louca" no país.
Os Estados Unidos pedem há anos a reabertura do mercado da China, onde o consumo de carne aumentou de forma espetacular, e que os pecuaristas americanos consideram crucial.
Em contrapartida, os Estados Unidos suprimirão "o quanto antes" as restrições à importação de carne aviária chinesa.
Em matéria energética, os Estados Unidos autorizarão as empresas chinesas para que possam comprar gás natural americano.
A China "não será tratada menos favoravelmente do que outros países" que não têm um acordo de livre-comércio com a maior potência econômica do mundo, estabelece o acordo.
Pequim, por sua vez, autorizará as empresas estrangeiras a oferecer serviços de classificação financeira na China e promete um "acesso rápido e completo" ao mercado chinês aos sistemas americanos de pagamento eletrônico.
Por último, a China comemorou o envio de uma delegação americana ao fórum diplomático "Novas rotas da seda", que começa no próximo domingo em Pequim. No comunicado, os Estados Unidos informaram que "reconhecem a importância" desse fórum.
As negociações entre os dois países vão continuar, garantem tanto Pequim como Washington.
O acordo revelado nesta sexta-feira (12) não aborda os temas mais sensíveis das relações comerciais sino-americanas, como o aço e o alumínio. Os Estados Unidos continuam lançando investigações antidumping contra China, em nome da defesa dos "empregos norte-americanos".