Depois de François Hollande e Nicolas Sarkozy, o recém-empossado presidente francês, Emmanuel Macron, é o novo parceiro para a União Europeia (UE) da chanceler alemã, Angela Merkel, a quem deverá provar primeiro que conhece os passos da dança fiscal comunitária.
Frente ao Brexit e aos movimentos eurofóbicos, ambos os líderes se apresentaram na segunda-feira como defensores da Europa, embora nenhuma grande transformação do projeto europeu deva acontecer antes das eleições legislativas na França (junho) e na Alemanha (setembro), de acordo com analistas.
Durante estes meses, Macron deverá mostrar a seus parceiros europeus, especialmente à chanceler alemã, que é capaz de fazer sua lição de casa, reformando o mercado de trabalho francês e saneando suas contas públicas.
"Antes de se dedicar às reformas da UE, a França deve recuperar a confiança de seus parceiros e fornecer garantias em matéria fiscal", explica à AFP Charles de Marcilly, analista da Fundação Robert Schuman.
Para Judy Dempsey, pesquisadora do Instituto Carnegie Europa, "portugueses, espanhóis e irlandeses também pensam que a França deve primeiro fazer esforços, uma vez que também tiveram que fazê-los".
A França poderia ser em 2018 o único país da zona do euro a registrar um déficit acima de 3% de seu PIB e, portanto, violar as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento em vigor nos 19 países do euro, de acordo com as últimas previsões do executivo da UE.
As finanças públicas francesas vão apresentar um déficit de 3,2% do PIB este ano, enquanto a Alemanha registrará um excedente de 0,3%. Além disso, a taxa de desemprego chegará a 9,6% na França em 2018 e 3,9% na Alemanha, a menor na zona do euro, de acordo com a Comissão.
Há anos, a mensagem da chefe de governo alemão aos presidentes franceses Sarkozy e Hollande tem sido a de fazê-los realizar reformas, como fez seu antecessor em Berlim, o social-democrata Gerhard Schröder.
No entanto, em seu primeiro encontro com o liberal Macron, a conservadora Merkel optou por não aumentar a pressão.
"Há claramente um desejo de incentivar Macron, especialmente depois de ter escapado do pior, ou seja, da chegada ao poder de Marine Le Pen", a candidata da extrema-direita, de acordo com Claire Demesmay, cientista política do Instituto Alemão para Política Externa (DGAP).
Durante a coletiva de imprensa conjunta em Berlim, Merkel não descartou a possibilidade evocada por Macron durante a campanha eleitoral de reformar os tratados europeus, "se houver utilidade", mostrando uma certa abertura de uma Alemanha até então contida a este respeito.
Para a analista do Carnegie Europa, autora de uma biografia da chanceler, "esta é uma atitude típica de Merkel", que "não se compromete, mas diz que pode pensar sobre o assunto".
Além disso, "o presidente francês não insistiu em reformas ambiciosas para a UE, porque sabe que a chanceler alemã não pode se comprometer antes das eleições legislativas de 24 de setembro", aponta Dempsey.
Macron também tentou tranquilizar Merkel sobre as suas propostas de nomeação de um ministro das Finanças e de criação de um orçamento comum para a zona do euro, recebidas com desconfiança pela Alemanha preocupada em pagar mais por países que não sanearem suas contas públicas.
O chefe de Estado francês explicou que "não deseja 'eurobonds' nem [a divisão] de dívidas antigas [dos países da zona do euro]", aponta Demesmay, para quem isto "era importante, dada as críticas na Alemanha sobre o assunto.
Uma revisão dos tratados, que deve ser unanimidade entre os países da UE, não está no horizonte imediato europeu antes das eleições na França e na Alemanha, assegura Marcilly. E no médio prazo, as negociações de saída do Reino Unido da UE não devem afetar os esforços para fazer avançar uma maior unidade no bloco, segundo os analistas.