Em Jerusalém, Gaza ou Golã, seja do lado israelense ou palestino, eles viveram a Guerra dos Seis Dias, como soldados ou como civis, e contam à AFP suas experiências.
Yaaqub Sanduqa, 19 anos em 1967
Palestino de Jerusalém:
"Quando a guerra foi declarada, estava com meu pai e meus três irmãos em nossa cafeteria na cidade antiga. O 'souk' (mercado) fechou e nós também. Nos refugiamos na casa de familiares. Em 6 de junho, quatro soldados jordanianos disparavam contra aviões israelenses do telhado. Os israelenses entraram no pátio e abriram fogo contra dois de meus irmãos e meu tio. Nos disseram em um árabe ruim 'Saiam daqui com as mãos para o alto! Saímos sem olhar os corpos de meu irmão e meu tio. A sombra da morte nos rodeava. Outro irmão, que estava ferido, conseguiu sair dali antes de cair no chão. Meu pai, meu último irmão e eu tentamos salvá-lo, mas estava morto e eu só pensava em escapar. Corri até chegar a casa de meu tio. Entramos em um caminhão e fomos até a ponte Allenby" em direção à Jordânia.
Ada Yeivin, 36 anos em 1967
A israelense encontrou refúgio com seus três filhos de 10, 9 e 3 anos no apartamento de uma amiga, próximo da linha de frente em Jerusalém. Sua amiga fez uma barricada com sacos de areia para proteger o apartamento, onde estavam 12 pessoas.
"Todos nós dormíamos no chão. As crianças conseguiam dormir, mas eu passei várias noites sem dormir. Antes e durante a tomada de Jerusalém Oriental, aumentaram os disparos de morteiro. Rahel (uma amiga), que estava sentada no peitoril da janela, foi arremessada pelo apartamento pela onda expansiva de uma explosão. Pensamos que estava ferida, mas só teve contusões, os sacos amorteceram os disparos. Uma vez, à meia-noite, os disparos eram tão intensos que parecia um pesadelo. Acordamos as crianças, os colocamos no canto mais seguro e deitamos sobre eles durante uma hora. Tínhamos certeza de que eles levariam um tiro".
Nafez al-Atti, 21 anos em 1967
Membro do Exército de Libertação da Palestina em Gaza:
"Para mim esta foi a Guerra dos Três Dias. O Exército de Libertação da Palestina era composto por 5.000 homens. Cada família de Gaza tinha que enviar um. Quando começou a guerra, pensamos que estávamos preparados para, pelo menos, resistir. resistir. Tínhamos um sonho, queríamos um país. No primeiro dia, estava em uma base na fronteira próximo de Khan Yunis. Às 10 horas da manhã ouvimos explosões. Uma hora depois, um oficial nos disse: 'o país está perdido. Eles têm tanques, os que quiserem desertar podem fazê-lo'. Éramos cinco na base, desertaram três. Ficaram dois soldados com dois Kalashnikov e um canhão velho. No terceiro dia voltei para a cidade. Tudo estava destruído e as pessoas fugiram. Entendi que havíamos perdido".
Ehud Gross, 21 anos em 1967
Estudante israelense e oficial da reserva nos tanques, mobilizado no Sinai antes de ser enviado às Colinas de Golã:
"Outros tomaram Jerusalém, o Sinai. Nós estávamos nervosos porque as Colinas de Golã não tinham importância. A moral estava no chão. Não entendíamos muito de política. Logo chegou a ordem: 'Vamos subir' (às Colinas de Golã). Saímos dali com nervos de aço. O sentimento de alegria e de facilidade desapareceu rapidamente quando a artilharia síria disparou. Começamos o dia com 25 tanques e acabamos com três".
Abu Jamal, 32 anos em 1967
Habitante de Ramallah:
"Estávamos aqui, em Ramallah, os soldados israelenses chegaram e todos fomos afetados. Abandonamos nossas casas e nossos povoados. A metade das pessoas foi para Jordânia pensando nos massacres cometidos (anos atrás) pelos judeus contra o povo palestino", diz, em alusão ao período 1947-1948, anterior à criação de Israel e marcado por atos violentos dos judeus e dos árabes. Após a guerra, "a vida mudou porque os judeus fizeram com que as pessoas trabalhassem para eles. O objetivo era fazer com que esquecessem sua terra".
Shabtai Bril, 30 anos em 1967
Oficial da inteligência militar israelense:
"Israel estava sozinha, como em 1948, contra sete países árabes. Quem não conhecesse nossas forças teria medo. Quem, como eu, estava no exército não estava preocupado. A surpresa foi que aconteceu tão rapidamente, mas estávamos certos de que iríamos ganhar. Fomos os primeiros a saber que nossos aviões tinham destruído a aviação egípcia, síria e jordaniana em três horas. Pulamos de alegria e brindamos, foi uma alegria militar. Mas, dias depois, quando ouvimos que (os soldados israelenses) teríamos chegado a Kotel (o Muro das Lamentações em Jerusalém Oriental), foi uma alegria nacional".
Israelenses e palestinos comemoram na segunda-feira, 5 de junho, o 50º aniversário da Guerra dos Seis Dias, um conflito que mudou o rosto do Oriente Médio e deixou um rastro de cinco décadas de violência, de planos de paz abortados e de decepção.
A esperança de que israelenses e palestinos cheguem a um acordo sobre a coexistência de dois Estados parece a cada dia mais distante, e o desejo do presidente americano, Donald Trump, de mediar um acordo diplomático provoca ceticismo.
Ambos os lados divergem sobre o pano de fundo de uma guerra que fortaleceu Israel e deu início a 50 anos de ocupação e de colonização dos territórios palestinos.
A esmagadora vitória de Israel sobre os países árabes vizinhos entre 5 e 10 de junho de 1967 levou à delimitação do pequeno Estado criado depois da Segunda Guerra Mundial.
Para os israelenses, a proeza militar completa a aspiração judaica de um retorno a Jerusalém, algo pelo qual esperavam há quase 2.000 anos. Já os palestinos denunciam o roubo de suas terras e o fato de os israelenses insistirem em dominar todo o território entre o Jordão e o Mar Mediterrâneo.
Muitos israelenses, incluindo ministros do governo de Benjamin Netanyahu, rejeitam abertamente a criação de um Estado palestino, solução mais defendida pela maioria da comunidade internacional.
Alguns afirmam que os palestinos que quiserem viver em um Estado judaico poderão fazê-lo, mas que os demais devem ir embora.
"Vale a pena tentar, concedendo-lhes, talvez, uma compensação", opina o advogado israelense Michael Lafair, de 43 anos, que visitou Jerusalém recentemente com seus filhos para os atos comemorativos da vitória de 1967.
A alguns passos da Cidade Antiga de Jerusalém, tomada pelo Exército israelense dos jordanianos em 1967, o palestino Mohamed Castiro recusa a ideia de forma categórica.
"Ficamos. É nossa terra, e não temos nenhuma intenção de ir embora", garante esse homem de 51 anos, no pequeno café propriedade de sua família desde 1965.
O conflito está o tempo todo presente: nas disputas sobre os lugares santos de Jerusalém, no muro de separação israelense que bordeja a Cisjordânia ocupada e no bloqueio da Faixa de Gaza.
Foram três guerras em Gaza desde 2008. Duas revoltas populares palestinas (as chamadas Intifadas) aprofundaram e ampliaram esse fosso. Houve momentos de esperança, como após os acordos de Oslo e o histórico aperto de mãos com Yasser Arafat, mas que caíram por terra quando o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin foi assassinado por um extremista judeu.
Em paralelo, Israel se impôs como a principal potência militar da região e se autoproclamado a "nação startup" por seu dinamismo no setor de alta tecnologia.
Diante da colonização, que cerceia ainda mais o território palestino, e da divisão entre a Autoridade Palestina e o movimento palestino islamita Hamas, cabe perguntar sobre a viabilidade da solução de dois Estados.
"Não sabemos se está morta, mas a cada ano que passa é mais difícil levá-la adiante", declara Dan Shapiro, ex-embaixador dos Estados Unidos em Israel.
"Existe, talvez, um ponto de não retorno, e a particularidade desses pontos é que, às vezes, você se dá conta muito depois de tê-los ultrapassado", acrescentou.
A guerra de 1967 foi uma vitória de Israel sobre Egito, Jordânia e Síria. Israel se apoderou de Jerusalém Oriental e das Colinas de Golã (anexadas), da Cisjordânia (ainda ocupada pelo Exército), da Faixa de Gaza (de onde se retirou em 2005, mas ainda sujeita a bloqueio) e da península do Sinai (devolvida ao Egito).
Nesses 50 anos, Israel assinou acordos de paz com Egito e Jordânia, mas as relações com os palestinos de Jerusalém Oriental, da Cisjordânia e de Gaza foram afetadas.
O governo de Netanyahu é considerado o mais à direita da história de Israel, e a influência dos pacifistas, a menor possível.
Entre os palestinos, o presidente Mahmud Abbas, de 82 anos, é impopular. O Hamas tenta suavizar sua imagem, mas se mantém firme em sua recusa a reconhecer Israel. As últimas negociações entre israelenses e palestinos fracassaram em 2014.
Uma recente pesquisa israelense indica que 78% dessa população não vislumbra qualquer possibilidade de acordo de paz em um futuro previsível. Outra enquete, do lado palestino, mostra que, para 60% dos entrevistados, a solução dos dois Estados não é viável.
A deputada israelense Aliza Lavie, de centro, apoia a ideia dos dois Estados, mas considera que o país deve ser realista.
"Deveríamos voltar à mesa de negociações e encontrar uma solução", defendeu, "mas devemos fazer isso sem perder de vista a necessidade de nos protegermos".
Hanan Ashraui, membro da Organização da Libertação da Palestina (OLP), era estudante em Beirute em 1967 e levou seis anos para retornar à sua Cisjordânia natal. Ele se refere a 1967 como o "capítulo mais doloroso" de sua vida.
"Não é algo abstrato, ou que remonte a 3.000 anos atrás", comentou.
"Não apenas criam um Estado na tua própria terra, como agora você vê como se estende e, além disso, mantém você em cativeiro e priva você de seus direitos mais elementares".