O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou os primeiros atentados em Teerã, onde homens armados e suicidas atacaram nesta quarta-feira o Parlamento e o mausoléu do aiatolá Khomeini, ações que deixaram ao menos 13 mortos e dezenas de feridos.
No final da tarde, em uma primeira reação oficial, o presidente iraniano, Hassan Rohani, clamou pela "unidade e cooperação regional e internacional" contra o terrorismo, em um comunicado da presidência.
Segundo ele, "aqueles que desejam mal ao Irã (...) recrutaram elementos reacionários e takfiris (nome dado no Irã aos grupos extremistas islâmicos) para tentar esconder seus fracassos regionais e fazer esquecer o descontentamento em sua própria sociedade".
Ele, no entanto, não citou os Estados Unidos e a Arábia Saudita, como fez mais cedo a Guarda Revolucionária, o exército de elite do regime, que denunciou o "envolvimento" desses dois países nos atentados.
Por sua vez, o guia supremo Ali Khamenei garantiu que o "povo iraniano avança, e esses fogos não terão nenhum efeito sobre a nossa determinação".
Os atentados cometidos de modo quase simultâneo contra dois locais altamente simbólicos não têm precedentes na capital iraniana. Eles fizeram 13 mortos, segundo um balanço atualizado, e ao menos 46 feridos.
Os ataques demoraram várias horas e prosseguiram até o meio da tarde.
A polícia informou que todos os terroristas foram abatidos por volta das 15H00 (7H30 de Brasília), quase cinco horas depois do início dos ataques.
"Combatentes do EI atacaram o mausoléu Khomeini e o prédio do Parlamento em Teerã", afirmou a agência Amaq, o órgão de propaganda do grupo jihadista, mencionando dois atentados suicidas.
O grupo extremista divulgou ainda um vídeo dos criminosos dentro do Parlamento, um tipo de reivindicação inédita.
O ataque começou quando quatro pessoas invadiram a sede do Parlamento, no centro da cidade, e uma delas detonou uma carga explosiva presa ao corpo.
Os criminosos estavam disfarçados de mulheres, segundo o vice-ministro do Interior, Hossein Zolfagari.
Durante o ataque, um dos agressores seguiu para avenida ao lado da Câmara dos Deputados e abriu fogo contra os transeuntes. As forças de segurança atiraram e o homem retornou para o edifício.
Apesar do ataque, os deputados não interromperam a sessão, comandada pelo presidente do Parlamento, Ali Larijani, que denunciou um ato de "terroristas covardes".
Outro ataque coordenado aconteceu quando vários homens armados invadiram o mausoléu do aiatolá Ruhollah Khomeini, que fica a 20 km de distância, na zona sul de Teerã.
Um funcionário do mausoléu afirmou que "três ou quatro" pessoas entraram pelo acesso oeste do edifício e abriram fogo. Eles mataram um jardineiro e feriram várias pessoas.
Dois agressores - um deles uma mulher - detonaram cargas explosivas do lado de fora do monumento, segundo as agências de notícias.
O Serviço Secreto informou que outro grupo de "terroristas" foi neutralizado em Teerã antes de passar à ação.
Os Estados Unidos condenaram os ataques em Teerã, considerando que "a depravação do terrorismo não tem lugar em um mundo pacífico e civilizado", segundo a porta-voz do departamento de Estado, Heather Nauert.
A Rússia, aliada do Irã no Oriente Médio, condenou os ataques e pediu uma "coordenação na luta antiterrorista".
"Estes atos de terrorismo merecem a mais dura condenação. Os ataques demonstram a necessidade de coordenar a luta antiterrorista, sobretudo contra o Estado Islâmico", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
A Guarda Revolucionária iraniana acusou em um comunicado os Estados Unidos e a Arábia Saudita de estarem "envolvidos" nos atentados em Teerã, considerando que a "ação terrorista após o encontro do presidente dos Estados Unidos com o chefe de um dos governos reacionários da região, que sempre apoiou os terroristas, é repleta de significado e a reivindicação pelo Daesh (grupo Estado Islâmico) mostra que estão envolvidos"
"A Guarda Revolucionária sempre provou que jamais deixa de vingar o sangue de inocentes", ressalta o comunicado do exército de elite.
Esta é a primeira vez que o EI comete atentados em Teerã, onde os últimos ataques aconteceram nos anos 2000, executados em sua maioria pela organização armada Mujahedines do Povo.
O Irã, ao lado da Rússia, apoia o regime sírio em sua luta contra os grupos rebeldes e extremistas.
As forças de segurança iranianas anunciaram nos últimos dois anos que desmantelaram várias células do EI no país que planejavam atentados.
O EI divulgou em março um vídeo em persa no qual afirmava que o grupo iria "conquistar o Irã e devolvê-lo à nação muçulmana sunita", provocando um banho de sangue entre os xiitas.
Apesar de alguns ataques em regiões próximas às fronteiras com Iraque, Afeganistão e Paquistão, executados por grupos jihadistas, entre eles o EI, os grandes centros urbanos do Irã haviam permanecido à margem deste tipo de violência até agora.