Donald Trump fez uma advertência apocalíptica a Coreia do Norte, com a promessa de "fogo e ira" por seu programa de mísseis, enquanto Pyongyang ameaçou nesta quarta-feira (9) lançar mísseis contra a ilha americana de Guam.
As declarações do presidente dos Estados Unidos evidenciam uma escalada na retórica de Washington ante os programas balístico e nuclear norte-coreanos, que custaram a Pyongyang sanções mais duras da ONU no fim de semana passado.
As afirmações também parecem uma resposta às declarações frequentes da Coreia do Norte, que na segunda-feira ameaçou transformar Seul em um "mar de chamas".
"É melhor que a Coreia do Norte não faça mais ameaças aos Estados Unidos. Enfrentarão fogo e ira como o mundo nunca viu", declarou Trump em seu clube de golfe em Bedminster, Nova Jersey, onde passa férias.
O discurso contrasta especialmente com as afirmações recentes do secretário de Estado, Rex Tillerson, de que Washington não busca a queda do regime norte-coreano.
Horas mais tarde, a Coreia do Norte disse que considerava a possibilidade de lançar mísseis balísticos de alcance intermediário contra as imediações das bases militares americanas na ilha de Guam, no Pacífico.
O plano pode ser colocado em prática "a qualquer momento", assim que o líder norte-coreano Kim Jong-Un tomar uma decisão, informou a agência oficial de notícias norte-coreana KCNA.
Guam, uma ilha isolada do Pacífico de quase 550 quilômetros quadrados, é um posto avançado chave para as forças americanas, estrategicamente localizada entre a península coreana e o mar da China Meridional.
Quase 6.000 soldados estão presentes no território, em particular na base aérea de Andersen e na base naval de Guam.
O governador de Guam, Eddie Calvo, minimizou nesta quarta-feira as ameaças norte-coreanas, mas declarou que a ilha está "preparada para qualquer eventualidade".
Bombardeiros americanos B1-B posicionados em Guam sobrevoaram na terça-feira a península coreana, o que "prova", segundo a KCNA, que os "imperialistas americanos são maníacos da guerra nuclear".
A questão se tornou ainda mais grave com as informações do jornal The Washington Post sobre os avanços militares norte-coreanos.
O jornal informou na terça-feira que um relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA) avalia que o regime comunista norte-coreano tem armas nucleares para colocar em seus mísseis balísticos, incluindo intercontinentais (ICBM).
Isto representa uma ameaça aos países vizinhos e também ao continente americano, segundo as conclusões do relatório concluído em julho pela DIA, segundo o Post.
Os especialistas têm divergências sobre as verdadeiras capacidades da Coreia do Norte, em especial a de miniaturizar com sucesso uma ogiva nuclear para introduzi-la em um míssil. A DIA chegou a conclusões similares há quatro anos, que depois foram descartadas por outros serviços de inteligência.
Todos, no entanto, concordam que Pyongyang avança a grandes passos desde que Kim Jong-Un chegou ao poder em dezembro de 2011.
Em julho, o regime norte-coreano lançou com sucesso dois ICBM. O primeiro teste, que Kim Jong-Un descreveu como um presente aos "bastardos americanos", mostrou que o foguete poderia, potencialmente, atingir o Alasca. O segundo míssil testado sugeriu que até mesmo Nova York poderia estar no alvo.
Trump disse que Kim Jong-Un "tem ameaçado além de sua atitude normal".
As autoridades americanas repetiram diversas vezes este ano que a opção militar estava "sobre a mesa".
Analistas e autoridades políticas ridiculizaram as declarações do presidente americano.
"Tentar superar a Coreia do Norte em ameaças é como tentar superar o papa em orações", escreveu no Twitter John Delury, professor da Universidade Yonesi de Seul.
O democrata Eliot Engel, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Representantes, lamentou a "absurda linha vermelha" traçada por Trump e que Kim Jong-Un vai atravessar inevitavelmente.
"A Coreia do Norte é uma ameaça real, mas a reação desequilibrada do presidente sugere que poderia considerar o uso de armas nucleares americanas em resposta a um comentário desagradável de um déspota norte-coreano", disse.
O Post também informou que outra avaliação de inteligência acredita que a Coreia do Norte tem atualmente até 60 armas nucleares, mais do que se acreditava até então.
Apesar desses avanços, especialistas asseguram que a Coreia do Norte ainda precisa superar obstáculos para poder afirmar que conseguiu aperfeiçoar sua tecnologia de armas nucleares e alcançar o território continental americano.
Após o segundo teste de ICBM, os especialistas afirmaram que a ogiva não conseguiu superar o limiar de entrada na atmosfera.
Para Siegfried Hecker, ex-diretor do Laboratório Nacional de Los Álamos (Novo México), Pyongyang não tem a experiência para lançar "uma ogiva nuclear suficientemente pequena, leve e robusta para poder sobreviver a um envio através de um ICBM".