"Desaparecido em Barcelona", diz a mensagem postada no Facebook por Tony Cadman, pedindo o compartilhamento da foto de seu neto de sete anos, que desapareceu depois que uma van atropelou a multidão nas Ramblas, em Barcelona, na Espanha. Logo abaixo, vê-se a fotografia de um menino sorridente com casaco verde e o nome da escola, a quem identifica como seu neto Julian Alessandro Cadman.
"Encontramos Jom (minha nora) e ela está (em condição) grave, mas estável no hospital", mas o menino ainda não apareceu, diz o texto, um exemplo do desespero das pessoas afetadas pelos dois atentados na Catalunha.
Mais de cem pessoas de 35 nacionalidades foram mortas ou ficaram feridas nas Ramblas de Barcelona e em Cambrils, balneário a 120 km ao sul, em incidentes separados.
Em ambos os casos, as vítimas foram atropeladas por veículos conduzidos por indivíduos dispostos a causar danos.
Franceses, alemães, italianos, irlandeses, australianos, marroquinos, venezuelanos, cubanos e espanhóis, entre outras nacionalidades, apareciam no balanço de vítimas do atentado das Ramblas, a avenida mais transitada de uma cidade que recebe cerca de 30 milhões de turistas anuais e 16,6% da população estrangeira.
As histórias são chocantes. Um homem italiano morreu na frente da mulher e dos dois filhos pequenos, que escaparam ilesos quando a van avançava a toda velocidade nas Ramblas.
"Nosso amigo e colega Bruno Fulotta foi atropelado e morto por um detestável terrorista no coração de Barcelona", dizia um comunicado da companhia de computação Tom's Hardware.
"Nos colocamos na pele do pequeno Alessandro, que está prestes a começar a escola primária... E pensamos na bebê Aria... que nunca conhecerá seu pai", disseram.
Segundo a imprensa italiana, o pai segurava a mão do filho, Alessandro, momentos antes de ser atropelado. Sua mulher, que empurrava o carro do bebê, conseguiu tirar o filho do caminho.
Uma família belga viveu um caso muito parecido: "o pai e os dois filhos viram a mulher e mãe morrer", contou uma fonte da Prefeitura de Barcelona.
A dor ainda era pungente no Hospital del Mar, o mais próximo ao local dos atentados e para onde foram transferidos grande parte dos feridos.
Em frente ao local fica a praia de Barcelona, normalmente repleta de turistas torrando no sol. Dessa vez, muitos estão dentro do hospital convalescendo dos ferimentos.
Em sua cafeteria, a família de um ferido espanhol almoçava um sanduíche, com os olhos inchados de chorar e ar de cansaço.
"Estamos nos sentindo muito mal", disse uma mulher do grupo, desculpando-se por não querer falar com jornalistas.
O secretário do Interior da Catalunha, Joaquim Forn, advertiu que o balanço de mortos pode aumentar, devido ao estado grave dos feridos.
Jordi, que não quis dar seu sobrenome, funcionário de um restaurante no passeio marítimo, explicou que "a praia está mais vazia que de costume".
Além disso, percebeu que o clima está diferente: "está todo mundo mais silencioso, poucas risadas e poucas conversas".
No Hotel Avenida Palace, muito perto do Paseo de Gracia, e um pouco depois das Ramblas, estão hospedados alguns familiares das vítimas, de acordo com o diretor do estabelecimento, Albert Álvarez.
Os familiares foram assistidos por psicólogos colocados à disposição pelas autoridades, e Álvarez diz ignorar a gravidade da situação dos que estão internados.
Na noite do atentado, o hotel recebeu uma avalanche de turistas que não conseguiam chegar aos seus hotéis na área isolada pela Polícia.
"Correu a notícia de que éramos um hotel-refúgio, e começou a chegar gente, não saberia te dizer, umas 600 pessoas. Demos a elas o que podíamos, jantar, água...", relatou Álvarez.