"Merkel ou Merkel: a única opção para a Alemanha?", questionou o principal programa de política do país no domingo (20), o que ilustra o ambiente a um mês das eleições legislativas, nas quais a chanceler alemã aspira a um quarto mandato.
"Nenhum desejo de mudança. Os alemães estão muito bem para desenvolver qualquer insatisfação real com o governo", afirmou esta semana em um editorial o jornal conservador Die Welt.
A chanceler, que viajará até 24 de setembro por 50 cidades, entende o cenário e - fiel a sua reputação - não corre nenhum risco, evita as promessas detalhadas e se apresentada como a fiadora da estabilidade em um mundo de crises, após os choques eleitorais do Brexit e de Donald Trump.
E repete que, apesar de estar há 12 anos no cargo, sua motivação permanece intacta: "Estou totalmente concentrada para vencer, para que a CDU vença".
As pesquisas permanecem inalteradas. Os social-democratas (SPD) de Martin Schulz, com 22-25% das intenções de voto, estão muito atrás da união conservadora CDU-CSU de Angela Merkel (38-40%), números muito similares ao da eleição de 2013.
Schulz afirma que lutará "até o último minuto". E a pesquisa mais recente do instituto Allensbach para o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung pode ser um sinal de esperança: 46% dos entrevistados se declararam indecisos, sete pontos a mais que na mesma época em 2013.
O SPD, hoje aliado da CDU na "GroKo" (grande coalizão) que governa o país, sonha com uma vitória e denuncia as desigualdades sociais, com base no carisma de Martin Schulz, considerado uma figura mais humana que Merkel.
"Martin Schulz é direto com as pessoas, tem uma posição clara, uma linguagem clara, um rumo claro" afirmou o líder dos deputados do SPD, Thomas Oppermann.
"Começamos a virada, o SPD deseja mais de 30% e com Martin Schulz vamos conseguir", disse.
Schulz atacou na terça-feira em um comício na região norte do país: "Ao contrário do que Merkel afirma, sempre há alternativa".
Do outro lado, a chanceler sequer pronuncia o nome do adversário.
Mas os social-democratas enfrentam um dilema: como estabelecer uma diferença da chanceler com a qual estão governando em aliança, sem renegar o balanço econômico positivo?
Para deixar a situação do partido ainda mais complicada, o SPD não pode contestar nada sobre os aspectos mais polêmicos do atual mandato de Merkel. O partido era favorável a receber mais de um milhão de refugiados desde 2015 e os social-democratas também estão envolvidos no escândalo das emissões poluentes dos automóveis.
"A Alemanha vai bem quando o SPD está no governo, mas a Alemanha pode ir melhor com um chanceler social-democrata", afirmou Schulz, ex-presidente do Parlamento europeu.
Neste contexto, os adversários mais radicais da chanceler estão resignados, como os populistas de direita do AfD, que há alguns meses imaginavam que conseguiriam roubar votos suficientes da CDU para obrigar Merkel a deixar o poder.
Alice Weidel, primeiro nome da lista do partido, admitiu que "segundo os prognósticos e as pesquisas para as legislativas de 24 de setembro, Merkel vai ficar".
A ordem de chegada e os resultados dos pequenos partidos são as grandes incógnitas da eleição e provavelmente determinarão o perfil do novo governo.
Vai existir GroKo, grande coalizão? Os liberais do FDP conseguirão impor-se como sócios de Merkel? A entrada prevista do AfD no Parlamento complicará a formação de uma maioria?
As perguntas serão respondidas após 24 de setembro. E talvez o país tenha que esperar longas negociações entre os partidos. Muito dependerá do caminho a seguir definido pelos social-democratas.
"Nada parece indicar que o SPD consiga alcançar (a CDU-CSU) (...) Se o SPD não deseja uma nova GroKo, deve preparar-se para estar na oposição", resumiu ao jornal Bild o presidente do instituto de pesquisas INSA, Hermann Binkert.