Em risco de moratória pelo pagamento atrasado de um bônus da PDVSA. A Venezuela deve quitar nesta sexta-feira (10) outros 81 milhões de dólares, a primeira obrigação a ser cumprida desde que o presidente Nicolás Maduro anunciou que buscará renegociar a dívida externa.
Um comitê da Associação Internacional de Swaps e Derivados (ISDA), que agrupa credores privados de dívida, decidiu nesta sexta-feira se reunir na próxima segunda em Nova York para avaliar as consequências do atraso dos pagamentos da PDVSA a seus credores internacionais.
Uma análise negativa da ISDA desencaderia uma moratória e iniciaria o pagamento de CDS (Credit Default Swaps), seguros contratados pelos credores para dívidas não pagas.
O governo anunciou há uma semana que tinha começado a transferência de 1,161 bilhão de dólares do bônus 2017 da PDVSA, mas credores não tinham recebido os pagamentos.
Além disso, os 81 milhões de juros do bônus PDVSA 2017 vencem nesta sexta-feira (10), três dias antes de um encontro com credores dos bônus em Caracas, convocado por Maduro há uma semana, quando anunciou seu plano de renegociar a dívida, de cerca de 150 bilhões de dólares.
Devido aos atrasos e títulos a vencer, as agências Fitch, Standard and Poor's e Moody's rebaixaram a classificação da dívida venezuelana, alertando para uma moratória dentro de curto prazo.
"Estamos no fim do jogo e, agora, tornou-se uma questão de dias, não semanas, até que se confirme o não pagamento", opinou a Capital Economics.
O governo deverá pagar, nesta segunda-feira (13), outros 200 milhões de dólares, além dos juros. Ao todo, deve quitar entre 1,47 bilhão e 1,7 bilhão de dólares em juros dos bônus até o fim deste ano.
"A 'renegociação e restruturação' da dívida têm muitos obstáculos. O cenário mais possível é uma eventual moratória", disse à AFP Andrea Saldarriaga, analista para América Latina do Atlantic Council.
As sanções que os Estados Unidos impuseram à Venezuela em agosto impedem que o governo recorra a fontes externas de capital e que investidores americanos negociem a dívida venezuelana.
"Isso dificulta chegar a um acordo com seus credores", opinou Saldarriaga.
Cerca de 70% dos credores de bônus são americanos e canadenses.
"A isso se soma a falta de liquidez da Venezuela", acrescentou.
Com a economia devastada e reservas internacionais de 9,7 bilhões de dólares, Caracas terá de pagar, em 2018, cerca de 8 bilhões de dólares.
Outro obstáculo é que Maduro designou como principal negociador o vice-presidente Tareck El Aissami, incluído por Washington em uma lista de funcionários venezuelanos sancionados.
Na quinta-feira (9), o governo de Donald Trump acrescentou outros dez funcionários à lista. Além disso, a União Europeia prevê adotar nesta segunda sanções contra a Venezuela.
Maduro acusa os Estados Unidos e seus "comparsas" de uma "perseguição financeira" para asfixiar o país, por ter um governo socialista.
Mas confia em seus aliados China, a quem a Venezuela deve cerca de 28 bilhões de dólares, e Rússia, que acertou um acordo de reestruturação de 3 bilhões de dólares.
"Maduro pode estar esperando que os credores de bônus pressionem o governo de Trump por algum tipo de isenção", opinou a diretora para América Latina do Eurasia Group, Risa Grais-Targow.
O governo venezuelano foi ambíguo em seu plano: fala de "refinanciamento" (oferta de troca de títulos) e de "restruturação" (que obrigaria credores a aceitarem novos termos), segundo o diretor da Ecoanalítica, Alejandro Grisanti.
De acordo com especialistas, para ambos os processos, o país deve mostrar um plano de reformas econômicas.
"Deve oferecer garantias de como vai pagar", indicou o economista Orlando Ochoa.
Com a queda dos preços do petróleo, fonte de 96% das divisas do país, o governo reduziu drasticamente as importações para evitar a moratória, provocando uma severa escassez de alimentos e remédios.
De acordo com o Eurasia Group e o IHS Markit, se deixar de pagar, Maduro terá um alívio temporário, com dinheiro para importar bens básicos perto da campanha para as eleições presidenciais de 2018.
Mas, a médio prazo, alertou a Ecoanalítica, uma moratória aprofundaria "a recessão" em um país com quatro anos de retração (36%), à beira da hiperinflação e com uma produção petroleira que caiu 23% desde 2008, a 1,9 milhão de barris diários.
"A longo prazo, as consequências financeiras agravariam o descontentamento social e potencialmente enfraqueceriam o apoio interno ao governo", opinou Grais-Targow.
A Venezuela ainda enfrentaria processos internacionais e o embargo de ativos da PDVSA no exterior, como a Citgo, filial da petroleira nos Estados Unidos.