O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (26) que ele teria a coragem de entrar mesmo que desarmado na escola da Flórida para tentar evitar o massacre que deixou 17 mortos e que impulsionou os estudantes a protestar contra o fácil acesso às armas de fogo.
"Acho que eu teria corrido e entrado mesmo sem ter armas. E acho que a maioria de vocês teria feito a mesma coisa", declarou, em uma reunião com governadores na Casa Branca.
A declaração de Trump se refere a um agente de segurança armado que, no dia do massacre, 14 de fevereiro, ficou do lado de fora da escola, na cidade de Parkland, e evitou entrar para tentar interceptar Nikolas Cruz, que abriu fogo matando 17 pessoas.
"O desempenho foi francamente uma vergonha", afirmou Trump, reiterando sua convicção de que as escolas são ímãs para pessoas que desejam protagonizar massacres, já que são áreas sem armas.
Em geral, declarou Trump, os agentes que poderiam ter tentado impedir o ataque à escola "não são exatamente pessoas a serem condecoradas com a medalha de honra. Foi uma coisa asquerosa".
No debate seguinte com os governadores, o responsável pelo estado de Washington, o democrata Jay Inslee, sugeriu ao presidente que seria bom "um pouco menos de Twitter e mais escuta" para qualquer discussão sobre segurança.
Em particular, disse Inslee, seria conveniente ouvir as crescentes objeções a uma ideia mencionada por Trump na semana passada de treinar professores para que carreguem armas ocultas para reagirem em caso de ataques a escolas, um proposta rejeitada por educadores e defensores do controle às armas.
Mas o presidente também se pronunciou na semana passada a favor de medidas como a melhoria dos controles de antecedentes, o aumento da idade legal para comprar armas e a proibição dos "bump stocks", dispositivos que transformam fuzis semiautomáticos em armas automáticas.
"Acabaremos com os 'bump stocks'. Eu mesmo acabarei com eles e não importa se o Congresso fará isso, ou não", insistiu diante dos governadores.
Estas declarações marcam uma divergência notável com as propostas da Associação Nacional do Rifle (NRA, em inglês), o poderoso lobby das armas que pagou 30 milhões de dólares à campanha presidencial de Trump.
Mas o presidente se apressou para afirmar claramente suas ligações com a NRA explicando que no fim de semana passado havia se encontrado com seu dirigente, Wayne LaPierre.
"Não existe maior fã da segunda emenda (que garante aos americanos o direito de possuir uma arma) e da NRA do que eu. São geniais", afirmou. "Não se preocupem, estão do nosso lado", continuou
Após o massacre da Flórida, tanto em uma parte quanto em outra do cenário político americano, assim como na sociedade civil, surgiram vozes que pediram uma regulamentação mais estrita das vendas de armas.
Neste contexto, uma grande manifestação foi convocada para 24 de março em Washington com o objetivo de pedir um controle mais estrito e colocar pressão nos responsáveis políticos americanos.
"Sou um pouco pessimista sobre a possibilidade de que aconteça algo", considerou o legislador republicano da Câmara de Representantes Charlie Dent em entrevista à CNN nesta segunda de manhã.
Os líderes republicanos do Congresso, Paul Ryan e Mitch McConnell, ainda não se pronunciaram sobre o tema, mas segundo uma pesquisa recente da CNN, 70% dos americanos são a favor de um endurecimento da legislação.
Nesta segunda-feira também estavam previstos em Washington encontros entre os sobreviventes do ataque a tiros e parlamentares americanos, mas nenhum detalhe desses encontros foi revelado.
Em Parkland, os professores e a equipe da escola Marjory Stoneman Douglas retornavam nesta segunda às salas para prepararem o retorno dos alunos, na quarta-feira.